quarta-feira, 15 de abril de 2020


REIMER, Everett. A escola esta morta: alternativas em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
«Diplomas de segundo ciclo e de faculdades serão distribuídos, mas perderão gradualmente seu valor, tanto em termos de quantidade e qualidade de conhecimentos adquiridos, quanto em habilitação profissional e renda real» (REIMER, 1979, p. 19).
«As faculdades, por exemplo, consomem, de longe, os mais elevados subsídios escolares, não somente em termos relativos como também em termos absolutos. Os estudantes diplomados saíram principalmente das classes de alto rendimento» (REIMER, 1979, p. 22).
«A domesticação escolar — emasculação social — atinge tanto as meninas quanto os rapazes, através de um processo muito mais perfeito do que mera seleção de sexos. A escola requer adaptação para a sobrevivência e, assim, molda seus alunos de forma a que se adaptem às regras da sobrevivência» (REIMER, 1979, p. 25).
«As escolas asseguram que os que herdam influência em um mundo subjugado pela tecnologia serão os que usufruirão vantagens desta dominação e, pior ainda, serão os que não estarão em condições de questionar a validade da tecnologia. Não somente os líderes, mas também seus seguidores, são moldados pela escola para fazer o jogo da competição de consumo – primeiro alcançar e depois sobrepujar a média dos demais. Se as regras são justas ou o jogo digno de ser jogado, não vem ao caso» (REIMER, 1979, p. 26).
«Não fosse a escola, e o cuidado das crianças, na família moderna, caberia exclusivamente à mãe. A escola, assim, ajuda a mulher moderna a libertar-se, mas somente ao preço da prisão de seu filho e da forte vinculação que ela e seu marido dedicam a seus empregos, para que possam sustentar a escola. Evidentemente, as mulheres necessitam não só da libertação que a escola oferece, mas de muitas outras. Homens e crianças, todavia, também precisam de sua própria libertação» (REIMER, 1979, p. 33).
«Os ídolos modernos são a ciência e a tecnologia, e seus templos, as instituições que propagam seu culto, lucrando com os resultados» (REIMER, 1979, p. 173).
«As escolas são, obviamente, planejadas para evitar que as crianças aprendam o que realmente as interessa, assim como servem para ensinar-lhes o que devem saber. Daí resulta que a maioria delas aprende a ler mas não aprecia a leitura, aprende seus algarismos e detesta matemática, se tranca nas salas de aula e aprende o que bem entende nos saguões, pátios e lavatórios» (REIMER, 1979, p. 156-157).
Atualmente são quatro as funções primordiais da escola: «a escola em si, como tutora de um número cada vez maior de pessoas, pelas proporções sempre crescentes de seu período de vida, por número cada vez maior de tempo e interesses, está prestes a se juntar aos exércitos, prisões e asilos de loucos, como uma das instituições totais da sociedade. Estritamente falando, instituições totais são aquelas que controlam totalmente a vida de seus membros, e mesmo o exército, prisões e hospícios só o fazem completamente para um determinado número de seus tutelados. [...] Uma segunda função das escolas, mais diretamente em conflito com as finalidades educacionais do que a tutela é a separação dos jovens nas categorias sociais que irão ocupar mais tarde, selecionando-os em uma hierarquia de castas mantendo viva uma elite enquanto priva as massas de seus líderes em potencial. A terceira função da escola é doutrinar ensinando o valor da competição para a obtenção dos prêmios maiores oferecidos pela escola, o valor de ser ensinado — e não de aprender por si mesmo — o que é bom e verdadeiro. Os "o que", "quando", "onde", e "como" da aprendizagem são decididos por outras pessoas, e as crianças aprendem que é bom depender de terceiros que lhes ensinem. Aprendem que o que vale a pena aprender é o que é ensinado, e que se algo é importante alguém deverá ensinar. Aprende o valor da adaptação e da hierarquia. As escolas tanto refletem os valores dominantes quanto mantêm o mundo estratificado fazendo parecer natural e inevitável que as hierarquias sejam inerentemente correlacionadas e que não possam independer uma das outras. Por último, embora declarada como principal função da educação escolar, a aprendizagem cognoscitiva, ocorre somente na proporção dos recursos remanescentes, depois que as outras três funções foram executadas» (REIMER, 1979, p. 36 e ss.).
«As medidas burocráticas, legais e processuais que amalgamaram dezenas de milhares de escolas distritais nominalmente independentes e milhares de ginásios e universidades em um sistema escolar nacional são o resultado lógico de uma filosofia que encara a escola como subserviente aos objetivos nacionais» (REIMER, 1979, p. 79).
«As instituições modernas assumiram a carga de manter e justificar a continuada existência de uma hierarquia de privilégios. Entre essas instituições, a escola representa o principal papel. Cabe a ela iniciar cada geração nos mitos da produção e consumo tecnológicos, na ideia de que o que será consumido deve primeiro ser produzido, e de que o que é produzido deve ser consumido. Não somente os produtos, mas serviços e mesmo os conhecimentos transformam-se em utilidades domésticas. Cabe à escola celebrar os rituais que conciliam mitos e realidades de uma sociedade que apenas tem a pretensão de pertencer a todos. Cabe à escola preparar os homens para suas atividades especializadas em suas instituições especializadas, selecionando-os e moldando-os em termos de aptidão e em termos de valores. Por sua própria estrutura hierárquica, convence os homens a aceitar uma única hierarquia integrada de poder e privilégios» (REIMER, 1979, p. 82).
«Há os que, beneficiando-se das instituições, desejam conscientemente preservá-las. São os proprietários, administradores, líderes políticos e outros detentores do poder, inclusive os cidadãos da classe média dos países desenvolvidos. Muitos dos que controlam o poder, não desejam conscientemente monopolizá-lo, e muitos sobre quem é exercido o poder rendem-se mais à ilusão do que a realidade do poder. Não podem os homens libertar-se sem luta das instituições existentes, nem tampouco terá essa luta qualquer valor se não tiver precedida de imaginação inventiva. O problema maior é que as nações desenvolvidas retêm agora o monopólio efetivo, ainda que não necessariamente deliberado, dos meios da invenção moderna» (REIMER, 1979, p. 93).
«O sistema escolar define educação como sendo escolarização; induzem a aceitação geral da definição pelos que dela necessitam (por exemplo, as pessoas são persuadidas a aceitar a educação como sendo a escola. Impedem que parte da população carente tenha pleno acesso ao produto ou serviço (por exemplo, o acesso a determinados níveis escolares só é permitido a alguns. Apropriam-se dos recursos disponíveis para as necessidades (por exemplo, todas as verbas) de educação são consumidas pela escola» (REIMER, 1979, p. 87-88).
«As escolas são instituições dominantes e não redes de oportunidades. Desenvolvem um produto que é, depois, vendido sob o rótulo de educação aos seus clientes. Concentrando-se nas crianças, recrutam clientes menos exigentes, aos quais se podem oferecer os prêmios produzidos pelas outras instituições. Os pais desejam esses prêmios para seus filhos, ainda mais do que para si mesmos, e podem comprar um futuro róseo ainda mais facilmente do que uma ilusão atual. Vistas à distância, as falácias da competição são menos evidentes. Os estrangeiros poderão ter o que temos se seguirem o rumo que seguimos. Operários alcançarão nosso nível de vida se se educarem para tal fim. Nossos filhos terão as coisas que não tivemos se se prepararem para produzi-las. Essas premissas parecem muito verossímeis, mas quando examinadas em perspectivas são patentemente falsas. Uma competição de consumo só pode levar a um resultado: o perdigueiro que alcança a caça, a matilha que aproveita as sobras e um bando vagabundo que não consegue nada. E esses são os resultados quer em termos de nação, classes, ou pessoas. As escolas toldam essas perspectivas, e ativamente fomentam as ilusões que a contradizem. Preparam as crianças exatamente para entrarem no jogo das competições. Produzem adultos que acreditam terem sido educados e que, de modo algum, estão preparados para continuarem sua educação» (REIMER, 1979, p. 108).
«Atualmente, a propaganda até soa plausível e é amplamente aceita. Os publicitários apresentam produtos específicos destinados a satisfazer carências específicas. Elaboram embalagens que vão ficando cada vez mais luxuosas, com maior exclusividade de acesso, e mais caras. Mais fundamental do que a elaboração do produto, entretanto, é a identificação desse com a necessidade a que se propõe satisfazer. Educação-escola, saúde-hospital, automóvel-transporte são binômios inseparáveis. As pessoas se esquecem que antes das escolas já haviam instruídos, antes dos hospitais, homens saudáveis, e antes dos automóveis e aviões, homens que se locomoviam por si mesmos ou no lombo de animais» (REIMER, 1979, p. 89).
«Toda a teoria da educação se baseia na pressuposição de que os métodos de produção aplicados ao ensino resultarão em ensino. Resultam, isto sim, no ensino de como produzir e consumir – desde que não ocorram mudanças fundamentais. Como um meio de ensinar a adaptação a circunstâncias mutáveis os métodos de produção são ridículos» (REIMER, 1979, p. 68).

Nenhum comentário:

Postar um comentário