REIMER, Everett. A escola esta morta: alternativas em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1979.
«Diplomas de segundo ciclo e de faculdades
serão distribuídos, mas perderão gradualmente seu valor, tanto em termos de
quantidade e qualidade de conhecimentos adquiridos, quanto em habilitação
profissional e renda real» (REIMER, 1979, p. 19).
«As faculdades, por exemplo, consomem, de
longe, os mais elevados subsídios escolares, não somente em termos relativos
como também em termos absolutos. Os estudantes diplomados saíram principalmente
das classes de alto rendimento» (REIMER, 1979, p. 22).
«A domesticação escolar — emasculação
social — atinge tanto as meninas quanto os rapazes, através de um processo
muito mais perfeito do que mera seleção de sexos. A escola requer adaptação
para a sobrevivência e, assim, molda seus alunos de forma a que se adaptem às
regras da sobrevivência» (REIMER, 1979, p. 25).
«As escolas asseguram que os que herdam
influência em um mundo subjugado pela tecnologia serão os que usufruirão
vantagens desta dominação e, pior ainda, serão os que não estarão em condições
de questionar a validade da tecnologia. Não somente os líderes, mas também seus
seguidores, são moldados pela escola para fazer o jogo da competição de consumo
– primeiro alcançar e depois sobrepujar a média dos demais. Se as regras são
justas ou o jogo digno de ser jogado, não vem ao caso» (REIMER, 1979, p. 26).
«Não fosse a escola, e o cuidado das
crianças, na família moderna, caberia exclusivamente à mãe. A escola, assim,
ajuda a mulher moderna a libertar-se, mas somente ao preço da prisão de seu
filho e da forte vinculação que ela e seu marido dedicam a seus empregos, para
que possam sustentar a escola. Evidentemente, as mulheres necessitam não só da
libertação que a escola oferece, mas de muitas outras. Homens e crianças,
todavia, também precisam de sua própria libertação» (REIMER, 1979, p. 33).
«Os ídolos modernos são a ciência e a
tecnologia, e seus templos, as instituições que propagam seu culto, lucrando
com os resultados» (REIMER, 1979, p. 173).
«As escolas são, obviamente, planejadas
para evitar que as crianças aprendam o que realmente as interessa, assim como
servem para ensinar-lhes o que devem saber. Daí resulta que a maioria delas
aprende a ler mas não aprecia a leitura, aprende seus algarismos e detesta
matemática, se tranca nas salas de aula e aprende o que bem entende nos
saguões, pátios e lavatórios» (REIMER, 1979, p. 156-157).
Atualmente são quatro as funções
primordiais da escola: «a escola em si, como tutora de um número cada vez maior
de pessoas, pelas proporções sempre crescentes de seu período de vida, por
número cada vez maior de tempo e interesses, está prestes a se juntar aos
exércitos, prisões e asilos de loucos, como uma das instituições totais da
sociedade. Estritamente falando, instituições totais são aquelas que controlam
totalmente a vida de seus membros, e mesmo o exército, prisões e hospícios só o
fazem completamente para um determinado número de seus tutelados. [...] Uma
segunda função das escolas, mais diretamente em conflito com as finalidades
educacionais do que a tutela é a separação dos jovens nas categorias sociais
que irão ocupar mais tarde, selecionando-os em uma hierarquia de castas
mantendo viva uma elite enquanto priva as massas de seus líderes em potencial.
A terceira função da escola é doutrinar ensinando o valor da competição para a
obtenção dos prêmios maiores oferecidos pela escola, o valor de ser ensinado —
e não de aprender por si mesmo — o que é bom e verdadeiro. Os "o que",
"quando", "onde", e "como" da aprendizagem são
decididos por outras pessoas, e as crianças aprendem que é bom depender de
terceiros que lhes ensinem. Aprendem que o que vale a pena aprender é o que é
ensinado, e que se algo é importante alguém deverá ensinar. Aprende o valor da
adaptação e da hierarquia. As escolas tanto refletem os valores dominantes
quanto mantêm o mundo estratificado fazendo parecer natural e inevitável que as
hierarquias sejam inerentemente correlacionadas e que não possam independer uma
das outras. Por último, embora declarada como principal função da educação
escolar, a aprendizagem cognoscitiva, ocorre somente na proporção dos recursos
remanescentes, depois que as outras três funções foram executadas» (REIMER, 1979, p. 36 e ss.).
«As medidas burocráticas, legais e processuais
que amalgamaram dezenas de milhares de escolas distritais nominalmente
independentes e milhares de ginásios e universidades em um sistema escolar
nacional são o resultado lógico de uma filosofia que encara a escola como
subserviente aos objetivos nacionais» (REIMER, 1979, p. 79).
«As instituições modernas assumiram a carga
de manter e justificar a continuada existência de uma hierarquia de
privilégios. Entre essas instituições, a escola representa o principal papel.
Cabe a ela iniciar cada geração nos mitos da produção e consumo tecnológicos,
na ideia de que o que será consumido deve primeiro ser produzido, e de que o
que é produzido deve ser consumido. Não somente os produtos, mas serviços e
mesmo os conhecimentos transformam-se em utilidades domésticas. Cabe à escola
celebrar os rituais que conciliam mitos e realidades de uma sociedade que
apenas tem a pretensão de pertencer a todos. Cabe à escola preparar os homens
para suas atividades especializadas em suas instituições especializadas,
selecionando-os e moldando-os em termos de aptidão e em termos de valores. Por
sua própria estrutura hierárquica, convence os homens a aceitar uma única
hierarquia integrada de poder e privilégios» (REIMER, 1979, p. 82).
«Há os que, beneficiando-se das
instituições, desejam conscientemente preservá-las. São os proprietários,
administradores, líderes políticos e outros detentores do poder, inclusive os
cidadãos da classe média dos países desenvolvidos. Muitos dos que controlam o
poder, não desejam conscientemente monopolizá-lo, e muitos sobre quem é
exercido o poder rendem-se mais à ilusão do que a realidade do poder. Não podem
os homens libertar-se sem luta das instituições existentes, nem tampouco terá
essa luta qualquer valor se não tiver precedida de imaginação inventiva. O
problema maior é que as nações desenvolvidas retêm agora o monopólio efetivo,
ainda que não necessariamente deliberado, dos meios da invenção moderna» (REIMER, 1979, p. 93).
«O sistema escolar define educação como
sendo escolarização; induzem a aceitação geral da definição pelos que dela
necessitam (por exemplo, as pessoas são persuadidas a aceitar a educação como
sendo a escola. Impedem que parte da população carente tenha pleno acesso ao
produto ou serviço (por exemplo, o acesso a determinados níveis escolares só é
permitido a alguns. Apropriam-se dos recursos disponíveis para as necessidades
(por exemplo, todas as verbas) de educação são consumidas pela escola» (REIMER, 1979, p. 87-88).
«As escolas são instituições dominantes e
não redes de oportunidades. Desenvolvem um produto que é, depois, vendido sob o
rótulo de educação aos seus clientes. Concentrando-se nas crianças, recrutam
clientes menos exigentes, aos quais se podem oferecer os prêmios produzidos
pelas outras instituições. Os pais desejam esses prêmios para seus filhos,
ainda mais do que para si mesmos, e podem comprar um futuro róseo ainda mais
facilmente do que uma ilusão atual. Vistas à distância, as falácias da
competição são menos evidentes. Os estrangeiros poderão ter o que temos se
seguirem o rumo que seguimos. Operários alcançarão nosso nível de vida se se
educarem para tal fim. Nossos filhos terão as coisas que não tivemos se se
prepararem para produzi-las. Essas premissas parecem muito verossímeis, mas
quando examinadas em perspectivas são patentemente falsas. Uma competição de
consumo só pode levar a um resultado: o perdigueiro que alcança a caça, a matilha
que aproveita as sobras e um bando vagabundo que não consegue nada. E esses são
os resultados quer em termos de nação, classes, ou pessoas. As escolas toldam
essas perspectivas, e ativamente fomentam as ilusões que a contradizem.
Preparam as crianças exatamente para entrarem no jogo das competições. Produzem
adultos que acreditam terem sido educados e que, de modo algum, estão
preparados para continuarem sua educação» (REIMER, 1979, p. 108).
«Atualmente, a propaganda até soa plausível
e é amplamente aceita. Os publicitários apresentam produtos específicos
destinados a satisfazer carências específicas. Elaboram embalagens que vão
ficando cada vez mais luxuosas, com maior exclusividade de acesso, e mais
caras. Mais fundamental do que a elaboração do produto, entretanto, é a
identificação desse com a necessidade a que se propõe satisfazer.
Educação-escola, saúde-hospital, automóvel-transporte são binômios
inseparáveis. As pessoas se esquecem que antes das escolas já haviam
instruídos, antes dos hospitais, homens saudáveis, e antes dos automóveis e
aviões, homens que se locomoviam por si mesmos ou no lombo de animais» (REIMER, 1979, p. 89).
«Toda
a teoria da educação se baseia na pressuposição de que os métodos de produção
aplicados ao ensino resultarão em ensino. Resultam, isto sim, no ensino de como
produzir e consumir – desde que não ocorram mudanças fundamentais. Como um meio
de ensinar a adaptação a circunstâncias mutáveis os métodos de produção são
ridículos» (REIMER, 1979, p. 68).
Nenhum comentário:
Postar um comentário