quarta-feira, 15 de abril de 2020


LAPASSADE, Georges & LOURAU, René. Chaves da sociologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
«Essa dominação vai até a censurar permanentemente as ideias das classes dominadas, ao ponto de impedir que sejam ouvidas, que sejam compreendidas e que se tornem claras. A classe dominante exerce violência cultural permanente sobre as classes dominadas e exploradas e essa é a condição para que seja mantida a dominação» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 83-84).
Faz-se «o emprego do termo "ideologia" na sociologia contemporânea para designar "um sistema de ideias e juízos, explicito e geralmente organizado que serve para descrever, explicar, interpretar ou justificar a situação de um grupo ou de uma coletividade e que, inspirando-se amplamente nos valores, propõe uma orientação precisa à atividade histórica desse grupo ou dessa coletividade"» (GUY ROCHER apud LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 85). Essa definição implica: — Uma função explicativa da ideologia, que tende a provocar, manter ou salvaguardar uma unanimidade do grupo social (essa função é igualmente atuante nos mitos, mas o apelo à racionalidade está ausente nela); — Uma forma sistemática e organizada (tendência ao sincretismo); — Um apelo a valores: a ideologia apoia-se neles e tende a integrá-los num sistema; — Uma função normativa: a ideologia propõe modelos de ação, fornece objetivos e meios. Assim compreendido em seu sentido estritamente sociológico, o termo ideologia não abrange o conjunto da cultura. É um elemento dessa que se manifesta em todos os grupos sociais que constituem uma sociedade global, e assume um porte mais, e assume um porte mais racional que os modelos e valores» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 85-85 ).
«A afirmação de que a "escola é neutra" é já uma ideologia cuja função é precisamente de ocultar sua não-neutralidade, seu vínculo com o conjunto do modo de produção. [...] A escola "significa" que o saber proporciona o poder de participar na direção da sociedade. Ao mesmo tempo, essa instituição valoriza as mensagens que difunde e outras mensagens de que, aliás, consagra a legitimidade. Nesse sentido, a instituição escolar e universitária não é apenas um meio (neutro) para mensagens ou lugar em que as mensagens são comunicadas. É em si mesma uma mensagem, a da hierarquia social, que superdetermina as demais mensagens» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 90).
«A negatividade em atuação nas instituições como no conjunto do sistema econômico é estigmatizada pelo sociólogo com o nome de desvio, e com nome de esquerdismo pelo marxista dogmático. [...] Em todos os casos a instituição torna-se sinônimo de ordem estabelecida, ao passo que o grupo informal encarna a recusa e a anarquia» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 144).
«A negação da cultura dominante é da ideologia socioeconômica dominante pressupõe em primeiro lugar que o contestador se situe em referência à cultura, à ideologia. Dito de outro modo, é preciso ser cultivado e possuir os meios intelectuais que a ideologia oficial fornece graças à ciência e à estética, para poder ofuscar essa herança. As classes sociais excluídas da cultura e do conhecimento por sua situação de exploração não podem revoltar-se contra alguma coisa que não possuam. Pelo contrário, são no mais das vezes ávidas de partilhar o festim cultural, diante do qual os filhos da burguesia constituem a nata. É pois no seio da burguesia, no seio da cultura, e não numa classe e numa ideologia proletárias, que explode o movimento de crítica da cultura» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 91).
«Mas ao invés de permanecer um protesto, uma negação pura ou um ceticismo [...], a crítica se faz construtiva. Ela cria uma alternativa cultural. Já não se trata mais da cultura burguesa ou nada, mas a cultura burguesa ou a cultua underground, a contracultura. [...] Um dos problemas que põe em relevo a contracultura desde que ela se desenvolve, se faz aceitar, institucionalizar, comercializar, é o de sua "recuperação" pela cultura dominante e pela classe social dominante. [...] A cultura oficial, os circuitos de publicação, de imprensa, "dirigem", aos poucos, a novidade. O financeiro apodera-se dela» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 91-92).
«Como cultura, com efeito, não se entende unicamente a estética, o acúmulo de conhecimentos, mas maneiras de viver, costumes, hábitos, relações sociais institucionalizadas, sob forma jurídica ou não» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 91-92).
«O movimento das relações humanas liga-se a certo liberalismo reformista que pretende evitar a revolução social por vias diferentes da repressão aberta, o autoritarismo hierarquizado. Essa corrente é profundamente participacionista» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 122).
«Era preciso, portanto, modernizar a burocracia da empresa, torna-la mais flexível, facilitar as comunicações internas, preparar os quadros para obter novas formas de autoridade e de controle, uma direção mais "democrática". Não se exigia dos psicólogos que preparassem uma revolução» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 122), antes o objetivo primordial era evitá-la, posto que, sempre se soube que «o propósito da empresa privada é o lucro e a tarefa dos dirigentes de empresa é organizar a produção em função desse objetivo fundamental» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 135).
«A ideologia da permanência, da ordem social imutável, difundida por todas as instituições (escola, família, igrejas, etc.) choca-se com a caducidade das ideias, das culturas e das normas» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 137).
«O incognoscível assume um conteúdo concretíssimo: o do não saber dos atores em função de seu lugar na produção e nas relações de classe, mas também e em primeiro lugar em função da existência de uma sociedade de classe, radicalmente contrária à ideia de uma saber social totalmente acessível, até para os mais bem situados» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 153).
«A contra-revolução restabelece as instituições. É nesse movimento e no núcleo dessa contradição que a sociologia encontra seu lugar origem» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 156).
«A ação antiinstitucional é a negação absoluta das instituições que constituem a peculiaridade do modo de produção atual, isso é, das instituições sob a forma que assumem a reprodução e a produção das relações sociais no modo de produção capitalista (forma política ou econômica ou ideológica). A negação absoluta tem por conteúdo a negação da negação simples. Consiste em agir para a elaboração de novas formas sociais (experimentais e ou de lutas), em vez de contenta-se com o negar formas sociais existentes e todas as formas possíveis, num ceticismo liquidador ou niilismo sem conteúdo de classe» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 160).
«A negatividade é a categoria central da diligência dialética e do movimento do real. Até as ideologias, científicas ou não, que se proclamam positivas apelam vez por outra a uma forma atenuada de negatividade, por intermédio do relativismo, ou do ceticismo, ou do psicologismo, ou do irracional» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 161).
«A universidade está ligada ao modo de produção capitalista de maneira radical: mais ainda que os servos que ela forma e a ideologia que ela transmite, pressupõe ela o capitalismo em seu próprio ser. Ora, o primeiro trabalho de uma sociologia da educação, do trabalho, da cidade, é a revelação do vínculo com o modo de produção capitalista. É o que pode fazer o sociólogo caso não seja servo do sistema e do Estado» (LAPASSADE & LOURAU, 1972,p.191).
«O sociólogo do Estado não está inteiramente no mesmo terreno que o sociólogo marxista ou cristão. O sociólogo revolucionário não está ligado do mesmo modo a sua "ciência" que o sociólogo puramente de carreira» (LAPASSADE & LOURAU, 1972, p. 202).

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