segunda-feira, 16 de maio de 2011

Piotr Kropotkin - A conquista do pão

A conquista do pão
(Piotr Kropotkin)


«Cada descoberta, cada progresso, cada aumento da riqueza da humanidade tem o seu principio no conjunto do trabalho manual e Cerebral do passado e do presente. Logo, com que direito poderia alguém apossar-se da menor parcela desse imenso patrimônio e dizer: ‘Isto é meu, não é vosso?’» (KROPOTKIN, 2011, p.11).

«Compreende-se que sem retidão, sem o respeito de si mesmo, sem simpatia e sem auxílio mútuo, a espécie deve definhar como definham certas espécies que vivem de rapina» (KROPOTKIN, 2011, p. 13).

«A apropriação pessoal não é justa nem proveitosa. Tudo é de todos, visto que todos precisam de tudo, visto que todos têm trabalhado na medida de suas forças, e que é materialmente impossível determinar a parte que poderia pertencer a cada um na produção atual das riquezas» (KROPOTKIN, 2011, p. 14).

«Para que o bem-estar seja uma realidade é necessário que esse imenso capital: cidades, casas, campos, oficinas, vias de comunicação, deixe de ser considerado propriedade privada de que o açambarcador dispõe ao seu bel-prazer. É preciso que tudo isso, obtido com tanto trabalho, se torne propriedade comum. É preciso EXPROPRIAÇÃO» (KROPOTKIN, 2011, p. 20).

«Que tudo seja de todos na realidade, como em principio e que enfim na historia se produza uma revolução que cuide das ‘necessidades’ do povo antes de lhe ensinar a lição dos seus ‘deveres’» (KROPOTKIN, 2011, p. 24).

«O individuo, não mais ligado por leis, só terá hábitos sociais, resultado da necessidade de procurar o apoio, a cooperação e a simpatia dos vizinhos» (KROPOTKIN, 2011, p. 32).

«Todos nós fomos educados desde as tradições romanas e as ciencias professadas nas universidades, a crer no governo e no Estado-Providencia» (KROPOTKIN, 2011, p. 33).

«Em pleno século XIX como na idade media, é ainda a pobreza do camponês que faz a riqueza dos proprietarios de terras» (KROPOTKIN, 2011, p. 39).

«Nove décimos das fortunas colossais dos Estados Unidos são devidos a alguma grande falcatrua feita com o concurso do Estado. Na Europa acontece outro tanto e não há duas maneiras de ser fazer milionario» (KROPOTKIN, 2011, p. 40).

«Se o agricultor se liberta do grande proprietario de terras sem que a industria se liberte do capitalista, do comerciante e do banqueiro, não há nada feito» (KROPOTKIN, 2011, p. 43).

«Tudo é solidario nas nossas sociedades e é impossível reformar o que quer que seja sem derrubar o conjunto. No dia em que se tocar na propriedade particular sob uma das reformas – agrícola ou industrial, tem de se tocar em todas as outras. Assim o exigirá o sucesso da Revolução. Além disso, a expropriação não poderia ser senão geral; uma expropriação parcial não se compreenderia» (KROPOTKIN, 2011, p. 45).

«Queira ou não, é assim que o povo entende a revolução. Quando tiver varrido os governos, ele buscará, antes de tudo, garantir-se um alojamento saudável, uma alimentação suficiente e vestuário sem pagar impostos» (KROPOTKIN, 2011, p. 46).

«Será, pois necessário, quanto a nós, que o povo se aposse imediatamente de todos os gêneros que se encontrarem nas comunas insurgidas, inventariá-los e fazer de todo modo que, sem os esbanjar, todos se aproveitem dos produtos acumulados para atravessar o período de crise» (KROPOTKIN, 2011, p. 51).

«Em que bases poderia fazer-se a organização para gozar os gêneros comuns? É uma pergunta que surge naturalmente. [...] Numa palavra: tomar a esmo o que se possui em abundancia; arraçoamento do que tiver de ser partilhado![Pois] é preciso nunca ter visto o povo deliberar para crer que, se fosse senhor, ele não o fizesses conforme os mais puros sentimentos de justiça e de equidade» (KROPOTKIN, 2011, p. 54-55).

«Sendo toda a nossa civilização burguesa baseada na exploração das raças inferiores, o primeiro beneficio da revolução será já ameaçar essa ‘civilização’, permitindo às raças chamadas inferiores emanciparem-se» (KROPOTKIN, 2011, p. 63).

«Pode-se mudar de governo sem que jamais ao bom burguês falte a hora do seu jantar, mas não se reparam assim os crimes duma sociedade contra os que a sustenta» (KROPOTKIN, 2011, p. 74).

«É porventura um sonho conceber uma sociedade onde, sendo todos produtores, recebendo todos instrução que lhe permita cultivar as ciencias ou as artes, e tendo todos vagar de o fazer, se associem entre si para publicarem seus trabalhos suportando a sua parte do trabalho manual?» (KROPOTKIN, 2011, p. 91).

«No dia em que as letras e a ciencia se virem livres da escravidão mercenaria tomarão o seu verdadeiro lugar na obra do desenvolvimento humano» (KROPOTKIN, 2011, p. 93).

«O que é preciso para favorecer o genio das descobertas é primeiramente o desperta do pensamento, é a audacia de concepção, que toda a nossa educação contribui a fazer esmorecer» (KROPOTKIN, 2011, p. 95).

«É precisamente para por fim a esta separação entre o trabalho mental e o trabalho manual, que nós queremos abolir o salariado, que queremos a Revolução social. Então o trabalho não se apresentará como uma maldição da sorte tornar-se-á o que deve ser: o livre exercicio de ‘todas’ as faculdades do homem» (KROPOTKIN, 2011, p. 129).

«Quem observar com um olhar inteligente sabe que a criança reputada preguiçosa na escola, muitas vezes compreende mal o que lhe é mal-ensinado. Muitas vezes também, o seu caso provêm de anemia cerebral, resultado da pobreza e duma educação anti-higiênica» (KROPOTKIN, 2011, p. 136).


«O engenheiro, o sabio, o doutor exploram Um capital  o seu diploma como o burguês explora uma oficina ou como o nobre explora os seus títulos de nascimento» (KROPOTKIN, 2011, p. 144).

«Antes de carregar de ciencia o cérebro da criança, daí-lhe primeiro sangue, fortificai e, para que não perca o seu tempo, levai-a ao campo ou a borda do mar. Aí ensinai-lhe ao ar livre, e não em livros, a geometria, medindo com ela as distancias até os rochedos próximos; ela aprenderá as ciencias naturais colhendo as flores e pescando no mar; a física, fabricando o barco em que há de ir pescar. Mas, por favor, não lhe enchais o cérebro de frases e de linguas mortas. Não façais do menor um preguiçoso. [...] Não vedes que os vossos métodos de ensino, elaborados por um ministro para milhões de alunos que representam milhões de capacidades diferentes, não fazei mais do que impor um sistema bom para mediocridades, imaginado por uma media de medíocres. A nossa escola torna-se uma universidade da preguiça, como a vossa prisão é uma universidade do crime» (KROPOTKIN, 2011, p. 138).

«’Abaixo os privilegios da educação, tal qual os do nascimento!’ Somos anarquistas precisamente porque esses privilegios nos revoltam» (KROPOTKIN, 2011, p. 146).

«Poderiam dizer antes, que o Estado, tendo-lhe sempre levado uma boa parte dos seus produtos em forma de impostos, o padre em forma de dízimos, e o proprietario em forma de renda, criou-se uma classe de homens que antigamente consumiam o que produziam, salvo a parte reservada para o imprevisto ou das despesas representadas por árvores, estradas, etc., mas que hoje são obrigados a sustentar-se de castanhas ou de milho, beber água-pé, sendo o resto levado pelo Estado, o proprietario, o padre e o agiota» (KROPOTKIN, 2011, p. 158).

«O capital vai a todo parte onde se encontram miseráveis a explorar» (KROPOTKIN, 2011, p. 169).

«Assim o proprietario, o Estado e o banqueiro roubam o cultivador, pela renda, o imposto e os juros» (KROPOTKIN, 2011, p. 179).

«Pão, carne e leite, esses três produtos que depois da habitação formam a preocupação principal, cotidiana, dos nove décimos da humanidade» (KROPOTKIN, 2011, p. 184).

«Embrutecidos pelas nossas instituições na escola, escravizados ao passar para a idade madura e até o túmulo, quase não ousamos pensar» (KROPOTKIN, 2011, p. 195).

«Será ainda pelo trabalho em comum da terra que as sociedades libertarias acharão de novo a sua unidade e apagarão os odios, e as opressões que as haviam dividido» (KROPOTKIN, 2011, p. 196).

KROPOTKIN, Piotr. A conquista do pão. Rio de Janeiro: Rizoma, 2011, 201p. Tradução: Cesar Falcão.

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