domingo, 12 de julho de 2015

ABDEL-MALEK, Anouar. A dialética social. Petrópolis: Paz e Terra, 1975.

ABDEL-MALEK, Anouar. A dialética social. Petrópolis: Paz e Terra, 1975.

«Uma sociedade não se constrói em torno de "significações", mas das tarefas essenciais sem as quais ela não poderia continuar. E, como indivíduo, a sociedade se esforça em primeiro lugar para sobreviver, para perpetuar sua existência (mais que sua essência). Ela se esforça em seguida (poderíamos chamar isso de suas tarefas secundárias) para maximizar (pela competição e eventualmente pela luta) as vantagens de que gozam seus membros privilegiados quando se trata de uma sociedade hierarquizada. As relações organizadas em torno dessas tarefas (não a consciência nem a teorização dessas relações) repercutem em toda a vida social. Todas as outras formas de relações e de consciência devem adaptar-se a essas relações enquanto que a recíproca não é verdadeira» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 112).
«Ora, a ideologia nacionalitária assim como a ideologia religiosa oferecem, no atual estado de coisas, mil possibilidades aos reacionários de se colocarem ao contrário como os melhores defensores da pátria e da religião» (M. Rodinson, In: Islam et capitalisme apud ABDEL-MALEK, 1975, p.119-120).
«O imperialismo é a tentativa que os grandes magnatas da indústria fazem de alargar o canal de escoamento de seu excedente de riqueza, e isso através da procura de mercados estrangeiros e de investimentos estrangeiros (susceptíveis de) absorver as mercadorias e o capital que eles não podem vender ou utilizar internamente» (John A. Hobson, 1902, In: Imperialism: a study apud ABDEL-MALEK, 1975, p. 207).
«A vitória da revolução na China em 1949 marca o ponto de virada de toda a história mundial – ao colocar o Oriente renascente e revolucionário (a área dependente) no centro dos processos de decisão política internacionais» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 240).
«O problema da natureza do poder no Estado moderno é, consequentemente, colocado. Os tecnocratas — será preciso lembrar ? — não passam de técnicos, cientistas e administradores. Nas sociedades em que a complexidade é proporcional ao progresso econômico, eles são levados, por inclinação por assim dizer muito natural, a pensar que são os quadros mais qualificados para a gestão, em primeiro lugar, e para a decisão econômica, em seguida; depois disso, tomando consciência da imbricação direta do econômico e do político — apesar das ilusões reconfortantes da separação de poderes, e, mais ainda, da autonomia das esferas da vida social —, é o poder  de decisão política  que lhes parece pertencer-lhes, em termos de mérito e de  qualificação» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 253-254).
«A história do poder de Estado no mundo tem sido a da organização sempre mais racional da violência enquanto instrumento da hegemonia das classes e grupos sociais dirigentes no seio do Estado Nacional. [...] A paz civil no interior; a violência contra os inimigos externos e internos. O Estado podia se conceber como o Estado de paz apenas civil. Mas somente às custas de uma verdadeira mutilação ideológica e teórica: a partir do desejo persistente de mascarar a natureza de classe do poder para manter a ficção da divisão do poder, a do primado da liberdade individual formal sobre as liberdades públicas. Daí vem a persistência das teorias idealistas do Estado na época atual» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 288-289).
«E a violência, antes identificada com todos os demônios, revela-se ao mesmo tempo como instrumento de morte maciça e o da criação de um mundo novo. Uma vez que ela se integra a uma visão geral do futuro do mundo, a um projeto de civilização, ao fato de as massas tomarem seu destino em suas mãos» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 290).
«O Estado e seu aparelho concentram, em suas mãos, um número sempre crescente de conhecimentos, de decisões fundamentais, de organização planificada e orientada de toda a vida social. Por toda parte, de um modo contraditório, porém convergente, os centros não-estatais de decisão parecem ultrapassados pela exigência de racionalidade maximizada, que impõe a centralização, ou seja, o Estado» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 292).

«Mas, fundamentalmente, em razão da evolução da estrutura interna das formações socioeconômicas nacionais de nossa época, incluindo-se todas as ideologias, que fez do Estado o centro do poder de decisão em todos os planos da vida social, de sua preservação, assim como de sua evolução, quer se trate de economia, de hegemonia política, de cultura e de ideologia, ou dos modos de vida quotidiana» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 293). 

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