Para
o Estado deve haver sempre o excesso de poder incondicional sobre o povo, o
Estado firme em seu próprio direito a fim de que possa evitar ser dissolvido e
aniquilado «Se o Estado, por mais democrático que seja, não for sustentando por
esse espectro do exercício incondicional do poder, não terá para funcionar: o
poder é, por definição, em excesso, senão não é poder» (ZIZEK, 2011, p. 120).
Isso
permite ao maoísta Alain Badiou afirmar que «Hoje o inimigo não se chama
Império nem Capital. Chama-se Democracia» (Alain Badiou, Prefazione all’
edizione italiana, em Metapolítica, Nápoles, Cronopio, 2002, p.14 apud ZIZEK,
2011, p. 191) pois hoje o que impossibilita a critica radical do Capitalismo é
exatamente se crer que se pode lutar democraticamente contra o Capital.
«A
nova característica principal da China nos últimos anos foi o surgimento de um
movimento operário em grande escala que protesta contra as condições de
trabalho, que são o preço que a China está pagando para se tornar rapidamente a
primeira potencia industrial do mundo, movimento esse que sofreu repressão
violenta – uma nova prova, se ainda for necessária, de que a China hoje é o
Estado capitalista ideal: liberdade para o capital com um Estado encarregado de
fazer o ‘serviço sujo’ e controlar os trabalhadores» (ZIZEK, 2011, p. 198).
«O
reinado do capitalismo global contemporâneo é que é o verdadeiro Senhor do
Desgoverno. Não admira, portanto, que, para restringir o excesso de
desintegração social causado pela explosão capitalista, as autoridades chinesas
louvem as religiões e as ideologias que sustentam estabilidade social, do budismo ao confucionismo,
isto é, as mesmas ideologias que foram alvo da Revolução Cultural. Em abril de
2006, Ye Xiaowen, a maior autoridade religiosa na China, disse à agencia de
(p.204) noticias Xinhua que ‘a religião é uma das forças importantes das quais
a China tira seu vigor’, e destacou o budismo pelo papel inigualável na
promoção de uma sociedade harmoniosa’, fórmula social oficial para combinar a
expansão econômica com o desenvolvimento e a assistência social; na mesma
semana, a China sediou o Fórum Budista Mundial» (ZIZEK, 2011, p. 204-205).
«Não
admira que na Irlanda contemporânea, quando as crianças pequenas têm de sair
sozinhas, seja comum às mães completarem a advertência tradicional – ‘Não fale
com estranhos!’ – com uma nova e mais específica – ‘... nem com padres!’» (ZIZEK,
2011, p. 58).
«A
‘busca da felicidade’ é um elemento tão fundamental do ‘sonho (ideológico)
norte-americano’ que tendemos a esquecer a origem contingente dessa expressão:
‘Consideremos estas verdades evidentes
por si sós, que todos os homens foram criados iguais, que são dotados pelo
Criador de alguns Direitos inalienáveis, que dentre eles, estão a Vida, a
Liberdade e a busca da Felicidade’. De onde vem essa ‘busca da felicidade’
um tanto esquisita do famoso trecho inicial da Declaração de Independência dos
Estados Unidos? A fonte é John Locke, que afirmava que todos os homens possuíam
os direitos naturais da vida, da liberdade e da propriedade; esta última foi
substituída por ‘busca da felicidade’ durante as negociações para a redação da
Declaração como forma de negar aos negros
a direito à propriedade » (ZIZEK, 2011, p. 64).
«Longe
de aceitar tais regras, o dever de todo sujeito ético não seria combater esse
universo por todos os meios possíveis, inclusive a remoção física (assassinato0
da liderança totalitária?» (ZIZEK, 2011, p. 105).
«À
dominação pertence o poder, que cria uma hierarquia de graus por meio da
imposição da vontade daquele que governa, na medida em que é realmente
poderoso, isto é, na medida em que dispõe daqueles sob seu domínio» (FAYE,
Emmanuel, Heidegger, p. 239 apud ZIZEK,
2011, p. 146).
«A
verdadeira coragem do ato é sempre a coragem de aceitar a inexistência do
grande Outro, isto é, de atacar a ordem existente no ponto do nó de seu sintoma»
(ZIZEK, 2011, p. 163).
«Em
toda a Coréia do Norte, as aldeias são decoradas com slogans comunistas e retratos de Kim Jong-il. O Vale no
2 tinha apenas um slogan entalhado
numa placa de madeira: ‘Todos obedecem aos regulamentos’ » (ZIZEK, 2011, p. 262).
Ver Choe Sang-hun, “Born and Raised in North Korean
Gulag”, International Herald Tribune, 9/7/2007, disponível em:
<http://www.iht.com/articles/2007/07/09/news/korea.php>.
«Piada
polonesa à época do socialismo do Estado Popular na ditadura do proletariado marxista/stalinista
– ‘o socialismo é a síntese das maiores conquistas de todos os modos de
produção anteriores: da sociedade tribal pré-classes ele extrai o primitivismo;
do modo de produção asiático, o despotismo; da Antiguidade, a escravidão; do
feudalismo, a dominação social dos senhores sobre os servos; do capitalismo, a
exploração e do socialismo, o nome’» (ZIZEK, 2011, p. 319).
«Para
Lacan, o sujeito precede a
subjetivação, a subjetivação (a constituição da ‘vida interior’ da experiência
do sujeito) é uma defesa contra o sujeito. Como tal, o sujeito é uma
(pré)condição do processo de subjetivação, no mesmo sentido em que, na década
de 1960, Herbert Marcuse afirmava que a liberdade é a condição da libertação» (ZIZEK,
2011, p. 343).
«Rousseau
já havia observado que o egoísmo, ou a preocupação com o próprio bem estar, não
se opõe ao bem comum, já que é possível deduzir facilmente normas altruístas a
partir de preocupações egoístas» (ZIZEK, 2011, p. 345).
«O
partido percebe-se/postula-se como selbst-aufhebung
(auto-superação) dos movimentos: ele não negocia com movimentos, ele é um
movimento transubstanciado na forma de universalidade política, pronto a
assumir o poder total do Estado e, como tal, ne s’autorise que de lui-même - autorizado apenas por si mesmo - »
(ZIZEK, 2011, p. 376).
«Quanto
ao terror, não o expulsai completamente da cidade. Que mortal é deverás íntegro
sem ter medo? Os que sentem medo reverenciam o que é certo. Com cidadãos assim,
seu país e sua cidade estarão em segurança, mais fortes do que tudo o que os
homens possuem» (Ésquilo, Eumenides
apud ZIZEK, 2011, p. 426).
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