segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Maurício TRAGTENBERG - Administração, poder e ideologia


Administração, poder e ideologia

 (Maurício Tragtenberg)

«Um jovem executivo, que passou um bom período sujeito à disciplina da empresa, constitui excelente ‘quadro’ para o Estado. Esse é o papel ‘educativo’ da empresa» (1980, p. 10).

«Uma política autêntica de ‘formação’ deve dar liberdade de expressão aos ‘formandos’, ultrapassando o nível de aquisição de conhecimento, tendo em conta a maturidade humana e social» (1980, p. 35).

 «É um tipo de ‘formação’ a que estamos acostumados desde a infância. A universidade, a Igreja, a família, constiruem os grandes modelos deste tipo de formação. Isso se constitui, nas suas formas mais elementares, como um ‘saber em conserva’; esse tipo de formação ignora a dimensão grupal» (1980, p. 37).

«Isso leva à aproximação com o modelo escolar, privilegiando as relações entre cada aluno com o mestre, erigindo a competição em prícipio pedagógico absoluto. A organização da comunicação num sentido único, a utilização da disciplina, confirmam-no» (1980, p. 39).

«É a burocracia produto da organização e sua patologia. Isso é reproduzido na educação, onde o ensino tem muito de administrativo e ‘programado’. A rotina pedagógica não auxiliou os ‘administradores’ do ensinomamagir num sentido de renovação; a rigidez dos programas administrativos e das rotinas escolares é reflexo da organização do meio e da rigidez de comportamento e atitudes — produtos dessa ‘matriz’ burocrática. Ante esse quadro, uma postura tecnocrática não é solução» (1980, p. 43).

«O sistema de ensino é descrito em termos de ‘fluxo de entrada’ (dos alunos) e em termos de ‘fluxos de saída’, ‘produtos finais e produtos não-finais’ — adequação às necessidades, emprego e desemprego. A instrução é definida como produto de consumo» (1980, p. 43).

«A finalidade de qualquer educação é modelar a sociedade:  mais do que ser ensinado, o homem deve fazer sua educação de homem e cidadão, aprender a se informar, a se comunicar com o ‘outro’, a participar, a tornar-se capaz de devir numa sociedade em pleno devir, essa é a finalidade primeira da educação. Na escola do futuro trata-se de aprender a devir» (1980, p. 44).

«É crença dominante que a classe operária não se distingue da classe média. Mesmo que muitos operários se sintam parte integrante  das classes médias e mesmo que isso se dê pela renda, sua condição é de proletário: trabalho embrutecedor, produção dividida, ou divisão de trabalho, rigor do ritmo, frustrações intelectuais, alienação do indivíduo» (1980, p. 103).

 «Onde conquistaram o aparelho de Estado, os partidos ditos ‘comunistas’, longe de abolir a organização salarial e patriarcal do capital, consolidaram-no, racionalizaram-no, reproduziram-no ao infinito, em todas as áreas» (1980, p. 104).

 «O ensino, a religião, a psiquiatria, o esporte, a pornografia e o urbanismo no processo de estatização são verdadeiras indústrias de castração, onde os efeitos completam a escravidão assalariada e as relações de produção capitalistas» (1980, p. 107).

«O poder é uma droga afrodisíaca para aqueles que o exercem, e paralisante para aqueles que o sofrem. O Estado se perpetua, pois, na sua maneira de oprimir, criou dependências do poder, emocional, sexual e psíquicas, ligando os oprimidos aos opressores» (1980, p. 111).



TRAGTENBERG, Maurício. Administração, poder e ideologia. São Paulo: Ática, 1980. 198p.

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