Administração,
poder e ideologia
«Um jovem
executivo, que passou um bom período sujeito à disciplina da empresa, constitui
excelente ‘quadro’ para o Estado. Esse é o papel ‘educativo’ da empresa» (1980, p. 10).
«Uma política
autêntica de ‘formação’ deve dar liberdade de expressão aos ‘formandos’,
ultrapassando o nível de aquisição de conhecimento, tendo em conta a maturidade
humana e social» (1980, p. 35).
«É um tipo de ‘formação’ a que estamos
acostumados desde a infância. A universidade, a Igreja, a família, constiruem
os grandes modelos deste tipo de formação. Isso se constitui, nas suas formas
mais elementares, como um ‘saber em conserva’; esse tipo de formação ignora a
dimensão grupal» (1980, p. 37).
«Isso leva à
aproximação com o modelo escolar, privilegiando as relações entre cada aluno
com o mestre, erigindo a competição em prícipio pedagógico absoluto. A
organização da comunicação num sentido único, a utilização da disciplina,
confirmam-no» (1980, p. 39).
«É a burocracia
produto da organização e sua patologia. Isso é reproduzido na educação, onde o
ensino tem muito de administrativo e ‘programado’. A rotina pedagógica não
auxiliou os ‘administradores’ do ensinomamagir num sentido de renovação; a rigidez
dos programas administrativos e das rotinas escolares é reflexo da organização
do meio e da rigidez de comportamento e atitudes — produtos dessa ‘matriz’
burocrática. Ante esse quadro, uma postura tecnocrática não é solução» (1980, p. 43).
«O sistema de ensino é descrito em termos de ‘fluxo de
entrada’ (dos alunos) e em termos de ‘fluxos de saída’, ‘produtos finais e
produtos não-finais’ — adequação às necessidades, emprego e desemprego. A
instrução é definida como produto de consumo» (1980, p. 43).
«A finalidade de
qualquer educação é modelar a sociedade:
mais do que ser ensinado, o homem deve fazer sua educação de homem e
cidadão, aprender a se informar, a se comunicar com o ‘outro’, a participar, a
tornar-se capaz de devir numa sociedade em pleno devir, essa é a finalidade
primeira da educação. Na escola do futuro trata-se de aprender a devir» (1980, p. 44).
«É crença
dominante que a classe operária não se distingue da classe média. Mesmo que
muitos operários se sintam parte integrante
das classes médias e mesmo que isso se dê pela renda, sua condição é de
proletário: trabalho embrutecedor, produção dividida, ou divisão de trabalho,
rigor do ritmo, frustrações intelectuais, alienação do indivíduo» (1980, p. 103).
«Onde conquistaram o aparelho de Estado, os
partidos ditos ‘comunistas’, longe de abolir a organização salarial e
patriarcal do capital, consolidaram-no, racionalizaram-no, reproduziram-no ao
infinito, em todas as áreas» (1980, p. 104).
«O ensino, a religião, a psiquiatria, o
esporte, a pornografia e o urbanismo no processo de estatização são verdadeiras
indústrias de castração, onde os efeitos completam a escravidão assalariada e
as relações de produção capitalistas» (1980, p. 107).
«O poder é uma
droga afrodisíaca para aqueles que o exercem, e paralisante para aqueles que o
sofrem. O Estado se perpetua, pois, na sua maneira de oprimir, criou
dependências do poder, emocional, sexual e psíquicas, ligando os oprimidos aos
opressores» (1980, p. 111).
TRAGTENBERG, Maurício. Administração, poder e ideologia. São Paulo:
Ática, 1980. 198p.
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