ENGUITA,
Mariano Fernández. A face oculta da
escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
«Em
1851, Taillandier, secretário geral do Ministério da Instrução Pública, em
França, declarava: "Hoje em dia, um dos maiores
interesses da civilização, em meio ao desenvolvimento imenso da indústria, é a
educação dos operários, a educação moral mais que a educação técnica"»
(MONIER, 1985, p, 162 apud ENGUITA,
1989, p. 113).
«Na
base de toda a organização não é possível substituir a autoridade pela
anarquia. É preciso, portanto, que o operário aprenda a vencer suas
resistências naturais ao dever absoluto de obedecer, e isso é o que lhe
ensinaremos nas Epinettes [...] A
disciplina na oficina constitui a dignidade bem entendida do operário; a higiene
e a previsão terminam por fazer dele um homem consumado» (CHARLOT & FIGEAT, 1985, p, 163
apud ENGUITA, 1989, p. 115).
«Em um
folheto muito difundido de 1874, The
theory of education in the United States of America, escrito por Harris e
Doty, duas figuras da educação, e assinado por setenta e sete presidentes de
centros universitários e superintendentes escolares dos estados, apontava-se
que a precisão militar é necessária para o manejo das classes escolares.
Insiste-se enormemente 1) na pontualidade, 2) na regularidade, 3) na atenção e
4) no silêncio como hábitos necessários ao longo da vida para a colaboração
eficaz com os próprios companheiros em uma civilização industrial e comercial» (TYACK, 1974, p, 50 apud ENGUITA, 1989, p. 122).
Em
1851, em França, Taillandier, secretário geral do Ministério da Instrução
Pública, declarava: «"Hoje em dia, um dos maiores
interesses da civilização, em meio ao desenvolvimento imenso da indústria, é a
educação dos operários, a educação moral mais que a educação técnica"»
(MONIER, 1985, p, 162 apud ENGUITA,
1989, p. 113). Nos EUA, «em um
folheto muito difundido, de 1874, The
theory of education in the United States of America, escrito por Harris e
Doty, duas figuras da educação, e assinado por setenta e sete presidentes de
centros universitários e superintendentes escolares dos estados, apontava-se
que a precisão militar é necessária para o manejo das classes escolares.
Insiste-se enormemente 1) na pontualidade, 2) na regularidade, 3) na atenção e
4) no silêncio como hábitos necessários ao longo da vida para a colaboração
eficaz com os próprios companheiros em uma civilização industrial e comercial» (TYACK, 1974, p, 50 apud ENGUITA, 1989, p. 122). Na Grã Bretanha, «uma
investigação sobre as higher elementary
schools, em 1906, (conforme a interpretação do Comitê Consultivo), pôs de
manifesto que o que os patrões queriam dessas escolas era que formassem neles
um bom caráter e lhes imbuíssem qualidades servis, à parte das destrezas gerais
básicas» (REEDER, 1981, p, 74
apud ENGUITA, 1989, p. 116).
Franklin
Bobbitt, citado por Enguita (1985),
defendeu a introdução do taylorismo na organização do processo educacional, a
partir dos seguintes princípios: «1) fixar as especificações e padrões
do produto final que se deseja (o aluno egresso); 2) fixar as especificações e
padrões para cada fase de elaboração do produto (matérias, anos acadêmicos,
trimestres, dias ou unidades letivas); 3) empregar os métodos tayloristas para
encontrar os métodos mais eficazes a respeito e assegurar que fossem seguidos
pelos professores; 4) determinar, em função disso, as qualificações
padronizadas exigidas pelos professores; 5) capacitá-los em consonância com
isso, ou colocar requisitos de acesso tais que forçassem as instituições
encarregadas disso a fazê-lo; 6) erigir uma formação permanente que mantivesse
o professor à altura de suas atribuições durante sua permanência no trabalho;
7) dar-lhes instruções detalhadas sobre como realizar seu trabalho; 8)
selecionar os meios materiais mais adequados; 9) traduzir todas as tarefas a
realizar em responsabilidades individualizadas e exigíveis; e 11) controlar
permanentemente o fluxo do "produto parcialmente
desenvolvido", isso é, o aluno» (BOBBITT, 1913 apud ENGUITA, 1989, p. 127).
«Afinal
o que se aprende na escola? Chega-se mais, ou menos longe, nos estudos, mas de
qualquer forma se aprende a ler, a escrever, a contar. Assim, pois, algumas
técnicas e muitas outras coisas ainda, incluídos alguns elementos (que podem
ser rudimentares ou, ao contrário, profundos) de "cultura científica"
ou "literária"
diretamente utilizáveis nos diferentes postos de produção (uma instrução para
os operários, outra para os técnicos, uma terceira para os engenheiros, uma
última para os quadros superiores, etc.). Aprendem-se, portanto, certeza
habilidades. Mas ao mesmo tempo, e também com o pretexto destas técnicas e
destes conhecimentos, aprendem-se na escola as regras do "bom comportamento", isso é, da adequada atitude
que deve observar, conforme o posto que está "destinado" a ocupar,
toda "agente da divisão do trabalho": regras de moral, de consciência
cívica e profissional, o que, falando claramente, significa regras a respeito
da divisão técnico-social do trabalho e, enfim, regras da ordem estabelecida
por meio da dominação de classe [...]. Para enunciar esse fato em uma linguagem
mais científica, diremos que a reprodução da força de trabalho exige, não
apenas uma reprodução de sua qualificação, mas também, e simultaneamente, uma
reprodução de sua submissão às regras da ordem estabelecida, isso é, um
reprodução de sua submissão à ideologia dominante [...]. Em outras palavras, a
escola [...] ensina certas "habilidades", mas mediante formas que
asseguram o submetimento à ideologia dominante, ou antes, o domínio de sua prática
» (ALTHUSSER, 1977, p. 74-75 apud ENGUITA,
1989, p. 147-148).
«A
segregação dos materiais ideológicos, as duas formas incompatíveis de inculcação
da ideologia dominante em uma e outra rede produzem efeitos opostos: por um
lado, os futuros proletários se lhes transmite um corpo compacto de ideias
burguesas simples; por outro, os futuros burgueses aprendem, através de toda
uma série de aprendizagens apropriadas, a converter-se (em pequena ou grande
escala) em intérpretes, atores e elaboradores da ideologia burguesa.
Evidentemente trata-se da mesma ideologia mas, entre o processo de inculcação
na [escola] primária-profissional e o processo de inculcação na [escola]
secundária-superior, existe a mesma diferença que entre o catecismo e a
teologia» (BAUDELOT & ESTABLET,
1976, p. 139 apud ENGUITA, 1989, p. 148). BAUDELOT, CH. e ESTABLET, R. La escuela capitalista in Francia.
Madrid, Siglo XXI, 1976.
Na obra La
escuela capitalista in Francia (1976), Baudelot & Establet
«[...]
Os aspectos formais, objetivos e cognitivamente orientados da escolarização
captam tão-somente um fragmento das relações sociais cotidianas do encontro
educacional [...]. Devemos considerar as escolas à luz das relações sócias da
vida econômica. [...] Sugerimos que os aspectos principais da organização
educacional são uma réplica das relações de domínio e subordinação na esfera
econômica. A correspondência entre as relações sociais da escolarização e as do
trabalho explica a capacidade do sistema educacional para produzir uma forma de
trabalho submissa e fragmentada. A experiência da escolarização, e não
meramente o conteúdo da aprendizagem formal é central nesse processo» (BOWLES & GINTIS, 1976, p. 125 apud
ENGUITA, 1989, p. 151).
«A
escola é uma instituição total de tempo parcial, cujos internos contam com
tardes livres, fins de semana e férias anuais. Nenhuma outra instituição
social, exceto os exércitos de serviço obrigatório – que não existem em todos
os países nem afetam o gênero feminino – apresenta essa característica de
enquadramento obrigatório de toda população. Outras instituições totais, das
quais os internos não se podem livrar, tais como as prisões e os manicômios,
afetam apenas a grupos proporcionalmente reduzidos – embora já se tornem
bastante amplos – da população» (ENGUITA,
1989, p. 157).
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1989.
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