domingo, 2 de junho de 2019

ENGUITA, Mariano Fernández. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.


ENGUITA, Mariano Fernández. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 
«Em 1851, Taillandier, secretário geral do Ministério da Instrução Pública, em França, declarava: "Hoje em dia, um dos maiores interesses da civilização, em meio ao desenvolvimento imenso da indústria, é a educação dos operários, a educação moral mais que a educação técnica"» (MONIER, 1985, p, 162 apud ENGUITA, 1989, p. 113).
«Na base de toda a organização não é possível substituir a autoridade pela anarquia. É preciso, portanto, que o operário aprenda a vencer suas resistências naturais ao dever absoluto de obedecer, e isso é o que lhe ensinaremos nas Epinettes [...] A disciplina na oficina constitui a dignidade bem entendida do operário; a higiene e a previsão terminam por fazer dele um homem consumado» (CHARLOT & FIGEAT, 1985, p, 163 apud ENGUITA, 1989, p. 115).
«Em um folheto muito difundido de 1874, The theory of education in the United States of America, escrito por Harris e Doty, duas figuras da educação, e assinado por setenta e sete presidentes de centros universitários e superintendentes escolares dos estados, apontava-se que a precisão militar é necessária para o manejo das classes escolares. Insiste-se enormemente 1) na pontualidade, 2) na regularidade, 3) na atenção e 4) no silêncio como hábitos necessários ao longo da vida para a colaboração eficaz com os próprios companheiros em uma civilização industrial e comercial» (TYACK, 1974, p, 50 apud ENGUITA, 1989, p. 122).
Em 1851, em França, Taillandier, secretário geral do Ministério da Instrução Pública, declarava: «"Hoje em dia, um dos maiores interesses da civilização, em meio ao desenvolvimento imenso da indústria, é a educação dos operários, a educação moral mais que a educação técnica"» (MONIER, 1985, p, 162 apud ENGUITA, 1989, p. 113). Nos EUA, «em um folheto muito difundido, de 1874, The theory of education in the United States of America, escrito por Harris e Doty, duas figuras da educação, e assinado por setenta e sete presidentes de centros universitários e superintendentes escolares dos estados, apontava-se que a precisão militar é necessária para o manejo das classes escolares. Insiste-se enormemente 1) na pontualidade, 2) na regularidade, 3) na atenção e 4) no silêncio como hábitos necessários ao longo da vida para a colaboração eficaz com os próprios companheiros em uma civilização industrial e comercial» (TYACK, 1974, p, 50 apud ENGUITA, 1989, p. 122). Na Grã Bretanha, «uma investigação sobre as higher elementary schools, em 1906, (conforme a interpretação do Comitê Consultivo), pôs de manifesto que o que os patrões queriam dessas escolas era que formassem neles um bom caráter e lhes imbuíssem qualidades servis, à parte das destrezas gerais básicas» (REEDER, 1981, p, 74 apud ENGUITA, 1989, p. 116).
Franklin Bobbitt, citado por Enguita (1985), defendeu a introdução do taylorismo na organização do processo educacional, a partir dos seguintes princípios: «1) fixar as especificações e padrões do produto final que se deseja (o aluno egresso); 2) fixar as especificações e padrões para cada fase de elaboração do produto (matérias, anos acadêmicos, trimestres, dias ou unidades letivas); 3) empregar os métodos tayloristas para encontrar os métodos mais eficazes a respeito e assegurar que fossem seguidos pelos professores; 4) determinar, em função disso, as qualificações padronizadas exigidas pelos professores; 5) capacitá-los em consonância com isso, ou colocar requisitos de acesso tais que forçassem as instituições encarregadas disso a fazê-lo; 6) erigir uma formação permanente que mantivesse o professor à altura de suas atribuições durante sua permanência no trabalho; 7) dar-lhes instruções detalhadas sobre como realizar seu trabalho; 8) selecionar os meios materiais mais adequados; 9) traduzir todas as tarefas a realizar em responsabilidades individualizadas e exigíveis; e 11) controlar permanentemente o fluxo do "produto parcialmente desenvolvido", isso é, o aluno» (BOBBITT, 1913 apud ENGUITA, 1989, p. 127).
«Afinal o que se aprende na escola? Chega-se mais, ou menos longe, nos estudos, mas de qualquer forma se aprende a ler, a escrever, a contar. Assim, pois, algumas técnicas e muitas outras coisas ainda, incluídos alguns elementos (que podem ser rudimentares ou, ao contrário, profundos) de "cultura científica" ou "literária" diretamente utilizáveis nos diferentes postos de produção (uma instrução para os operários, outra para os técnicos, uma terceira para os engenheiros, uma última para os quadros superiores, etc.). Aprendem-se, portanto, certeza habilidades. Mas ao mesmo tempo, e também com o pretexto destas técnicas e destes conhecimentos, aprendem-se na escola as regras do "bom comportamento", isso é, da adequada atitude que deve observar, conforme o posto que está "destinado" a ocupar, toda "agente da divisão do trabalho": regras de moral, de consciência cívica e profissional, o que, falando claramente, significa regras a respeito da divisão técnico-social do trabalho e, enfim, regras da ordem estabelecida por meio da dominação de classe [...]. Para enunciar esse fato em uma linguagem mais científica, diremos que a reprodução da força de trabalho exige, não apenas uma reprodução de sua qualificação, mas também, e simultaneamente, uma reprodução de sua submissão às regras da ordem estabelecida, isso é, um reprodução de sua submissão à ideologia dominante [...]. Em outras palavras, a escola [...] ensina certas "habilidades", mas mediante formas que asseguram o submetimento à ideologia dominante, ou antes, o domínio de sua prática » (ALTHUSSER, 1977, p. 74-75 apud ENGUITA, 1989, p. 147-148).
«A segregação dos materiais ideológicos, as duas formas incompatíveis de inculcação da ideologia dominante em uma e outra rede produzem efeitos opostos: por um lado, os futuros proletários se lhes transmite um corpo compacto de ideias burguesas simples; por outro, os futuros burgueses aprendem, através de toda uma série de aprendizagens apropriadas, a converter-se (em pequena ou grande escala) em intérpretes, atores e elaboradores da ideologia burguesa. Evidentemente trata-se da mesma ideologia mas, entre o processo de inculcação na [escola] primária-profissional e o processo de inculcação na [escola] secundária-superior, existe a mesma diferença que entre o catecismo e a teologia» (BAUDELOT & ESTABLET, 1976, p. 139 apud ENGUITA, 1989, p. 148). BAUDELOT, CH. e ESTABLET, R. La escuela capitalista in Francia. Madrid, Siglo XXI, 1976.
Na obra La escuela capitalista in Francia (1976), Baudelot & Establet
«[...] Os aspectos formais, objetivos e cognitivamente orientados da escolarização captam tão-somente um fragmento das relações sociais cotidianas do encontro educacional [...]. Devemos considerar as escolas à luz das relações sócias da vida econômica. [...] Sugerimos que os aspectos principais da organização educacional são uma réplica das relações de domínio e subordinação na esfera econômica. A correspondência entre as relações sociais da escolarização e as do trabalho explica a capacidade do sistema educacional para produzir uma forma de trabalho submissa e fragmentada. A experiência da escolarização, e não meramente o conteúdo da aprendizagem formal é central nesse processo» (BOWLES & GINTIS, 1976, p. 125 apud ENGUITA, 1989, p. 151).
«A escola é uma instituição total de tempo parcial, cujos internos contam com tardes livres, fins de semana e férias anuais. Nenhuma outra instituição social, exceto os exércitos de serviço obrigatório – que não existem em todos os países nem afetam o gênero feminino – apresenta essa característica de enquadramento obrigatório de toda população. Outras instituições totais, das quais os internos não se podem livrar, tais como as prisões e os manicômios, afetam apenas a grupos proporcionalmente reduzidos – embora já se tornem bastante amplos – da população» (ENGUITA, 1989, p. 157).

ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 

Um comentário:

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