ABDEL-MALEK, Anouar. A dialética social. Petrópolis: Paz e Terra, 1975.
«Uma
sociedade não se constrói em torno de "significações", mas das tarefas essenciais sem as quais ela não
poderia continuar. E, como indivíduo, a sociedade se esforça em primeiro lugar
para sobreviver, para perpetuar sua existência (mais que sua essência). Ela se
esforça em seguida (poderíamos chamar isso de suas tarefas secundárias) para
maximizar (pela competição e eventualmente pela luta) as vantagens de que gozam
seus membros privilegiados quando se trata de uma sociedade hierarquizada. As
relações organizadas em torno dessas tarefas (não a consciência nem a
teorização dessas relações) repercutem em toda a vida social. Todas as outras
formas de relações e de consciência devem adaptar-se a essas relações enquanto
que a recíproca não é verdadeira» (ABDEL-MALEK,
1975, p. 112).
«Ora, a
ideologia nacionalitária assim como a ideologia religiosa oferecem, no atual
estado de coisas, mil possibilidades aos reacionários de se colocarem ao
contrário como os melhores defensores da pátria e da religião» (M. Rodinson, In: Islam et capitalisme apud ABDEL-MALEK, 1975, p.119-120).
«O
imperialismo é a tentativa que os grandes magnatas da indústria fazem de
alargar o canal de escoamento de seu excedente de riqueza, e isso através da
procura de mercados estrangeiros e de investimentos estrangeiros (susceptíveis
de) absorver as mercadorias e o capital que eles não podem vender ou utilizar
internamente» (John A. Hobson, 1902,
In: Imperialism: a study apud ABDEL-MALEK,
1975, p. 207).
«A
vitória da revolução na China em 1949 marca o ponto de virada de toda a
história mundial – ao colocar o Oriente renascente e revolucionário (a área
dependente) no centro dos processos de decisão política internacionais» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 240).
«O
problema da natureza do poder no
Estado moderno é, consequentemente, colocado. Os tecnocratas — será preciso
lembrar ? — não passam de técnicos, cientistas e administradores. Nas
sociedades em que a complexidade é proporcional ao progresso econômico, eles
são levados, por inclinação por assim dizer muito natural, a pensar que são os
quadros mais qualificados para a gestão, em primeiro lugar, e para a decisão
econômica, em seguida; depois disso, tomando consciência da imbricação direta
do econômico e do político — apesar das ilusões reconfortantes da separação de
poderes, e, mais ainda, da autonomia das esferas da vida social —, é o
poder de decisão política que lhes parece pertencer-lhes, em termos de
mérito e de qualificação» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 253-254).
«A
história do poder de Estado no mundo tem sido a da organização sempre mais
racional da violência enquanto instrumento da hegemonia das classes e grupos
sociais dirigentes no seio do Estado Nacional. [...] A paz civil no interior; a
violência contra os inimigos externos e internos. O Estado podia se conceber
como o Estado de paz apenas civil. Mas somente às custas de uma verdadeira
mutilação ideológica e teórica: a partir do desejo persistente de mascarar a
natureza de classe do poder para manter a ficção da divisão do poder, a do
primado da liberdade individual formal sobre as liberdades públicas. Daí vem a
persistência das teorias idealistas do Estado na época atual» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 288-289).
«E a
violência, antes identificada com todos os demônios, revela-se ao mesmo tempo
como instrumento de morte maciça e o da criação de um mundo novo. Uma vez que
ela se integra a uma visão geral do futuro do mundo, a um projeto de
civilização, ao fato de as massas tomarem seu destino em suas mãos» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 290).
«O
Estado e seu aparelho concentram, em suas mãos, um número sempre crescente de
conhecimentos, de decisões fundamentais, de organização planificada e orientada
de toda a vida social. Por toda parte, de um modo contraditório, porém
convergente, os centros não-estatais de decisão parecem ultrapassados pela
exigência de racionalidade maximizada, que impõe a centralização, ou seja, o
Estado» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 292).
«Mas,
fundamentalmente, em razão da evolução da estrutura
interna das formações socioeconômicas nacionais de nossa época,
incluindo-se todas as ideologias, que fez do Estado o centro do poder de
decisão em todos os planos da vida social, de sua preservação, assim como de
sua evolução, quer se trate de economia, de hegemonia política, de cultura e de
ideologia, ou dos modos de vida quotidiana» (ABDEL-MALEK, 1975, p. 293).
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