Anarquismos: concepções
Anarquismo é uma teoria política que pretende criar anarquia, "a ausência do senhor, do soberano". Em outras palavras, anarquismo é uma teoria política que almeja criar uma sociedade na qual os indivíduos cooperem livremente entre si como iguais. Assim, o anarquismo se opõe a todas as formas de controle hierárquico - venha ele do Estado ou de capitalistas - por ser danoso tanto ao individuo quanto à sua individualidade e, portanto desnecessário (P-J Proudhon, What is Property, p. 264).
Embora a compreensão popular de anarquismo seja de um movimento violento antiestado, o anarquismo é uma tradição muito mais sutil e delicada do que a simples oposição ao poder governamental. Os anarquistas se opõem à idéia de que o poder e a dominação são necessários para a sociedade, e por isso defendem formas mais cooperativas e anti-hierárquicas de organização econômica, política e social (The Politics of Individualism, p. 106. L. Susan Brown).
O desejo comum a todos os anarquistas é uma sociedade livre de todas as instituições sociais coercitivas e políticas que impedem o desenvolvimento de uma humanidade livre (Rudolf Rocker, Anarcho-Syndicalism, p. 16).
Anarquismo é uma teoria política e sócio-econômica, não uma ideologia. A diferença é muito importante. Basicamente, teoria significa que você possui idéias; ideologia significa que idéias possuem você. Anarquismo é um corpo de idéias, mas elas são flexíveis, em um constante estado de evolução e movimento, e abertas para serem modificadas à luz de novas informações. Da mesma forma que a sociedade se altera e se desenvolve, assim também é o anarquismo. Uma ideologia, em contraste, é um conjunto de idéias "fixas" que as pessoas abraçam dogmaticamente, usualmente ignoram a realidade ou apenas efetuam "mudanças" que se adaptem à ideologia, que é (por definição) correta. Todas essas idéias "fixas" se constituem em uma fonte de tirania e contradição, que conduzem a tentativas de fazer com que cada pessoa se adapte a uma camisa de força. E isto se aplica a todas as ideologias – Leninismo, Objetivismo, "Libertarianismo", e daí por diante – todas elas produzirão o mesmo efeito: a destruição da personalidade, do indivíduo, em nome de uma doutrina, uma doutrina usualmente a serviço de uma elite dominante. Ou, como Mikhail Bakunin descreveu: "Até agora toda a história humana tem se restringido a uma perpétua e sanguinária imolação de milhões de pobres seres humanos em homenagem a uma cruel abstração -- Deus, país, poder do estado, orgulho nacional, direitos históricos, direitos jurídicos, liberdade política, interesse público" (Mikhail Bakunin. Deus e o Estado).
Os dogmas são estáticos e mortais em sua rigidez, que muitas vezes são materializados na figura de algum "profeta" religioso ou secular morto, em torno do qual seus seguidores constroem suas idéias, representadas na figura de um ídolo, imutável como uma pedra. Os anarquistas querem vida para enterrar a morte, querem da vida tudo aquilo que a vida pode dar. A vida governando sobre a morte, não vice-versa. Ideologia é o sacrifício do pensamento crítico e conseqüentemente da liberdade. Ideologia é um providencial livro de regras e "respostas" que nos desobrigam do "ônus" de pensar por nós mesmos. Embora as palavras gregas anarchos e anarchia sejam tidas como significando "sem governo" ou "estando sem governo", anarquismo, pode ser interpretado, em seu significado estrito, original, simplesmente como "nenhum governo". "An-archy" significa "sem um governante", ou mais abrangente, "sem autoridade", e é nesse sentido que os anarquistas tem continuamente adotado a palavra. A palavra "anarquia" vem do grego, prefixo an (ou a), significando "não", "que não quer", "a ausência de", ou "a falta de", mais archos, significando "um governo", "diretor", "chefe", "pessoa em um cargo", ou "autoridade". Ou, como Peter Kropotkin colocou, Anarquia vem de palavras gregas significando "contrario à autoridade" (Kropotkin's Revolutionary Pamphlets, p. 284).
Somos, pois, anarquistas, porque queremos uma sociedade sem governo, uma organização livre, indo do indivíduo ao grupo, do grupo à federação e à confederação, com desprezo das barreiras e fronteiras, sendo a associação baseada sobre o livre acordo e naturalmente determinada e regulada pelas necessidades, aptidões, idéias e sentimentos dos indivíduos [Neno Vasco 1878 – 1923].
A Anarquia é um modo de vida coletivo, no qual todos os homens e mulheres vivem como irmãos e irmãs, sem oprimirem-se ou explorarem-se, e cada um pode obter os meios que a civilização neste estágio histórico é capaz de prover, de modo a conseguir o desenvolvimento moral e material de mais alto nível; e Anarquismo é um método de realizar a Anarquia, através da liberdade e sem nenhum governo, isto é, sem autoridades que imponham, mesmo que com boas intenções, seus próprios desejos sobre os outros pela força (MALATESTA, Errico. Jornal “Pensiero e Volontà”) (In: Revista VERVE 3 p. 169-170).
Referencia
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