MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar,
1975.
«Não
podemos supor hoje que os homens devam, em última análise, ser governados pelo
seu próprio conhecimento. Entre os meios de poder que hoje predominam está o
poder de influir e manipular no consentimento dos homens. Não conhecemos o
limite desse poder — e esperamos que tenha limites, mas isso não elimina o fato
de que grande parte dele é hoje empregado com êxito, sem a sanção da razão ou a
consciência do obediente. Sem dúvida não precisamos, em nossa época, argumentar
que em última análise a coerção é a forma "final"
de poder»
(MILLS, 1975, p. 49).
«A
autoridade (poder justificado pelas convicções dos que obedecem
voluntariamente) e a manipulação (poder desfrutado sem o conhecimento dos
impotentes) também devem ser examinados, juntamente com a coação. Na verdade os
três tipos devem ser constantemente isolados, quando pensamos na natureza do
poder» (MILLS, 1975, p. 50).
«"Psicologismo" refere-se à tentativa
de explicar os fenômenos sociais em termos de fatos e teorias sobre a
constituição dos indivíduos. Historicamente, como doutrina, baseia-se numa
negativa metafísica explícita da realidade da estrutura social. Por outras
vezes, seus partidários podem apresentar uma concepção da estrutura que o
reduz, no que se relaciona com as explicações, a um conjunto de ambientes pessoais.
De forma ainda mais geral, e de interesse mais direto para nossa preocupação
com as políticas atuais de pesquisa na ciência social, o psicologismo se baseia
na ideia de que se estudarmos uma série de pessoas e seus ambientes, os
resultados de certa forma podem ser somados, dando o conhecimento da estrutura
social»
(MILLS, 1975, p. 77).
«Hoje
em dia, a pesquisa social é, frequentemente, de utilidade direta para os
generais do exército e os assistentes sociais, gerentes de empresas e diretores
de prisão. Esses usos burocráticos vêm aumentando; sem dúvida, continuarão a
aumentar» (MILLS, 1975, p. 90).
«Por
sua vez, os usos ideológicos das descobertas da ciência social tornam-se
prontamente parte das operações burocráticas: hoje em dia, as tentativas de
legitimar o poder, e de tornar aceitáveis determinadas políticas específicas,
são com frequência parte da "administração
do pessoal" e das "relações públicas"» (MILLS, 1975, p. 92).
«A
vida do indivíduo não pode ser compreendida adequadamente sem referência às
instituições dentro das quais sua biografia se desenrola. Pois essa biografia
registra a aquisição, abandono, modificação e, de forma muito íntima, a
passagem de um papel para outro» (MILLS,
1975, p. 175).
«Na
verdade, não podemos mesmo saber o que é mais elementar sobre "o indivíduo", por nenhum estudo
psicológico dele, como criatura socialmente isolada. […] O princípio do
especifismo histórico aplica-se à Psicologia e às Ciências Sociais» (MILLS, 1975, p. 177).
«A
ideia de uma "natureza
humana" comum ao homem como homem é uma violação do especifismo social e
histórico que o trabalho cuidadoso sobre os estudos humanos exige; é, no
mínimo, uma abstração que os estudiosos sociais não adquiriram o direito de
fazer»
(MILLS, 1975, p. 178).
«A
educação universal pode levar ao idiotismo tecnológico, e ao provincialismo
nacionalista, ao invés de promover a inteligência informada e independente.
[...] Um alto nível de racionalidade burocrática e de tecnologia não significa
um alto nível de inteligência individual ou social» (MILLS, 1975, p. 183).
Segundo
C. W. Mills (1975 nesse período histórico que ora estamos vivenciando «os
homens não fazem historia, tendem cada vez mais a se tornarem instrumentos dos
que a fazem, e também meros objetos do processo de criação da história» (MILLS, 1975, p. 197).
«A
formulação de qualquer problema exige que exponhamos os valores em causa e as
ameaças que sobre eles pesam. Pois é a ameaça aos valores existentes — como a
liberdade e a razão — que constitui a substância moral necessária de que todos
os problemas significativos da pesquisa social, bem como de todas as questões
públicas e perturbações privadas» (MILLS,
1975, p. 190).
«A
pesquisa e os cientistas sociais são cada vez mais usados para finalidade
burocráticas e ideológicas» (MILLS,
1975, p. 192).
«Todos
os cientistas sociais, pelo fato de existirem, estão envolvidos na luta entre o
esclarecimento e o obscurantismo» (MILLS,
1975, p. 193).
«A
imaginação sociológica, permitam-me lembrar, consiste em grande parte na
capacidade de passar de uma perspectiva a outra, e no processo estabelecer uma
visão adequada de uma sociedade total de seus componentes. É essa imaginação
que distingue o cientista social do simples técnico» (MILLS, 1975, p. 227-228).
«Os
problemas da ciência social, quando formulados adequadamente, devem incluir
tanto as preocupações como as questões, a biografia e a história, e o âmbito de
suas relações complexas. Dentro desse âmbito, a vida do indivíduo e a evolução
das sociedades ocorrem; e dentro desse âmbito a imaginação sociológica tem sua
possibilidade de influir na qualidade da vida humana de nossa época» (MILLS, 1975, p. 243).
«Nenhum
estudo social que não volte ao problema da biografia, da história e de suas
interligações dentro de uma sociedade completou a sua jornada intelectual» (MILLS, 1975, p. 12-13).
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