segunda-feira, 11 de setembro de 2017

BAKUNIN, Mikhail Alexandrovich. Estatismo e anarquia.

BAKUNIN, Mikhail Alexandrovich. Estatismo e anarquia. São Paulo: Ícone, 2003.
«O verdadeiro patriotismo é, sem dúvida, um sentimento dos mais respeitáveis, mas ao mesmo tempo estreito, exclusivo, anti-humano e, com frequência, apenas cruel» (BAKUNIN, 2003, p. 38).
« “Obediência” que é a primeira virtude de Estado » (BAKUNIN, 2003, p. 51).
«Para preservar a liberdade, a força e a paixão populares, é mesmo preferível a ignorância à civilização burguesa» (BAKUNIN, 2003, p. 51).
«Só os povos conquistadores criam o Estado, e o criam necessariamente em seu proveito, a expensas dos povos subjugados» (BAKUNIN, 2003, p. 63).
«Ora, quem parte da ideia abstrata nunca chegará à vida, pois da metafísica à vida não existe caminho» (BAKUNIN, 2003, p. 165).
«Os grandes problemas nacionais não são resolvidos pelo direito, mas pela força; a força tem sempre primazia sobre o direito”. (BAKUNIN, 2003, p. 205).
«Tudo o que a linguagem política denomina direito, é apenas a consagração de um fato criado pela força» (BAKUNIN, 2003, p. 205).
«Quem diz Estado, diz necessariamente dominação e, em conseqüência, escravidão; um Estado sem escravidão, declarada ou disfarçada, é inconcebível; eis por que somos inimigos do Estado» (BAKUNIN, 2003, p. 213).
«Segundo eles [marxistas], este jugo estatista, esta ditadura [do proletariado] é uma fase de transição necessária para chegar à emancipação total do povo: sendo, a anarquia ou a liberdade, o objetivo, e, o meio, o Estado ou a ditadura. Assim, portanto, para libertar as massas populares, dever-se-ia começar por subjugá-las» (BAKUNIN, 2003, p. 214).
«A liberdade só pode ser criada pela liberdade, isto é, pela insurreição de todo o povo e pela livre organização das massas trabalhadoras de baixo para cima» (BAKUNIN, 2003, p. 214).
«Estamos persuadidos, e toda a História Moderna o confirma, que enquanto a Humanidade estiver dividida entre uma minoria de exploradores e uma maioria de explorados, a liberdade será inconcebível e permanecerá uma mentira. Se desejais a liberdade para todos, sois obrigados a querer conosco a igualdade universal» (BAKUNIN, 2003, p. 222).
«Nenhum sábio está, portanto, em condições de ensinar ao povo, ou definir para ele, o que será ou deverá ser seu modo de vida, logo após a revolução social. Esse modo de vida será determinado, em primeiro lugar, pela situação de cada povo e, em segundo, pelas necessidades que nascerão em cada um deles e manifestar-se-ão como o máximo de força, portanto, de modo algum por diretrizes ou notas explicativas vindas de cima, de maneira geral, por teorias, quaisquer que sejam elas, concebidas às vésperas da Revolução» (BAKUNIN, 2003, p. 238).
«A igreja é para o povo um tipo de cabaré dos céus, assim como cabaré é um tipo de igreja celestial sobre a Terra; na igreja como no cabaré, o povo esquece, nem que seja por um momento, a fome, a opressão, as humilhações, e tenta apaziguar a sensação de sua miséria quotidiana, ora por uma crença insensata, ora pelo vinho. Uma e outra embriaguez se equivalem» (BAKUNIN, 2003, p. 246).
«Não compreendem que o pensamento decorre, ao contrário, da vida, e que, para modificar o pensamento, é preciso transformar a vida. Daí ao povo uma ampla existência humana e ele vos surpreenderá com o profundo racionalismo de suas ideias» (BAKUNIN, 2003, p. 247).

«O despotismo do marido, do pai, em seguida do irmão mais velho, fez da família, já imoral por seu fundamento jurídico-econômico, a escola da violência e da ignorância triunfantes, da covardia e da perversão quotidianas no lar» (BAKUNIN, 2003, p. 249).
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

«Não podemos supor hoje que os homens devam, em última análise, ser governados pelo seu próprio conhecimento. Entre os meios de poder que hoje predominam está o poder de influir e manipular no consentimento dos homens. Não conhecemos o limite desse poder — e esperamos que tenha limites, mas isso não elimina o fato de que grande parte dele é hoje empregado com êxito, sem a sanção da razão ou a consciência do obediente. Sem dúvida não precisamos, em nossa época, argumentar que em última análise a coerção é a forma "final" de poder» (MILLS, 1975, p. 49).
«A autoridade (poder justificado pelas convicções dos que obedecem voluntariamente) e a manipulação (poder desfrutado sem o conhecimento dos impotentes) também devem ser examinados, juntamente com a coação. Na verdade os três tipos devem ser constantemente isolados, quando pensamos na natureza do poder» (MILLS, 1975, p. 50).
«"Psicologismo" refere-se à tentativa de explicar os fenômenos sociais em termos de fatos e teorias sobre a constituição dos indivíduos. Historicamente, como doutrina, baseia-se numa negativa metafísica explícita da realidade da estrutura social. Por outras vezes, seus partidários podem apresentar uma concepção da estrutura que o reduz, no que se relaciona com as explicações, a um conjunto de ambientes pessoais. De forma ainda mais geral, e de interesse mais direto para nossa preocupação com as políticas atuais de pesquisa na ciência social, o psicologismo se baseia na ideia de que se estudarmos uma série de pessoas e seus ambientes, os resultados de certa forma podem ser somados, dando o conhecimento da estrutura social» (MILLS, 1975, p. 77).
«Hoje em dia, a pesquisa social é, frequentemente, de utilidade direta para os generais do exército e os assistentes sociais, gerentes de empresas e diretores de prisão. Esses usos burocráticos vêm aumentando; sem dúvida, continuarão a aumentar» (MILLS, 1975, p. 90).
«Por sua vez, os usos ideológicos das descobertas da ciência social tornam-se prontamente parte das operações burocráticas: hoje em dia, as tentativas de legitimar o poder, e de tornar aceitáveis determinadas políticas específicas, são com frequência parte da "administração do pessoal" e das "relações públicas"» (MILLS, 1975, p. 92).
«A vida do indivíduo não pode ser compreendida adequadamente sem referência às instituições dentro das quais sua biografia se desenrola. Pois essa biografia registra a aquisição, abandono, modificação e, de forma muito íntima, a passagem de um papel para outro» (MILLS, 1975, p. 175).
«Na verdade, não podemos mesmo saber o que é mais elementar sobre "o indivíduo", por nenhum estudo psicológico dele, como criatura socialmente isolada. […] O princípio do especifismo histórico aplica-se à Psicologia e às Ciências Sociais» (MILLS, 1975, p. 177).
«A ideia de uma "natureza humana" comum ao homem como homem é uma violação do especifismo social e histórico que o trabalho cuidadoso sobre os estudos humanos exige; é, no mínimo, uma abstração que os estudiosos sociais não adquiriram o direito de fazer» (MILLS, 1975, p. 178).
«A educação universal pode levar ao idiotismo tecnológico, e ao provincialismo nacionalista, ao invés de promover a inteligência informada e independente. [...] Um alto nível de racionalidade burocrática e de tecnologia não significa um alto nível de inteligência individual ou social» (MILLS, 1975, p. 183).
Segundo C. W. Mills (1975 nesse período histórico que ora estamos vivenciando «os homens não fazem historia, tendem cada vez mais a se tornarem instrumentos dos que a fazem, e também meros objetos do processo de criação da história» (MILLS, 1975, p. 197).
«A formulação de qualquer problema exige que exponhamos os valores em causa e as ameaças que sobre eles pesam. Pois é a ameaça aos valores existentes — como a liberdade e a razão — que constitui a substância moral necessária de que todos os problemas significativos da pesquisa social, bem como de todas as questões públicas e perturbações privadas» (MILLS, 1975, p. 190).
«A pesquisa e os cientistas sociais são cada vez mais usados para finalidade burocráticas e ideológicas» (MILLS, 1975, p. 192).
«Todos os cientistas sociais, pelo fato de existirem, estão envolvidos na luta entre o esclarecimento e o obscurantismo» (MILLS, 1975, p. 193).
«A imaginação sociológica, permitam-me lembrar, consiste em grande parte na capacidade de passar de uma perspectiva a outra, e no processo estabelecer uma visão adequada de uma sociedade total de seus componentes. É essa imaginação que distingue o cientista social do simples técnico» (MILLS, 1975, p. 227-228).
«Os problemas da ciência social, quando formulados adequadamente, devem incluir tanto as preocupações como as questões, a biografia e a história, e o âmbito de suas relações complexas. Dentro desse âmbito, a vida do indivíduo e a evolução das sociedades ocorrem; e dentro desse âmbito a imaginação sociológica tem sua possibilidade de influir na qualidade da vida humana de nossa época» (MILLS, 1975, p. 243).

«Nenhum estudo social que não volte ao problema da biografia, da história e de suas interligações dentro de uma sociedade completou a sua jornada intelectual» (MILLS, 1975, p. 12-13).

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.





MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

«O PRÍNCIPE»
Não pense nunca nenhum governante poder tomar decisões absolutamente certas; pense antes em ter que tomá-las sempre incertas, pois isso está na ordem das coisas, que nunca deixa, quando se procura evitar algum inconveniente, de incorrer em outro. A prudência está justamente em saber conhecer a natureza dos inconvenientes e adotar o menos prejudicial como sendo bom (MAQUIAVEL, 1996, p. 123).   
Capítulo I - De quantas espécies são os principados e de quantos modos se adquirem
«Todos os Estados, todos os domínios que tem havido e que há sobre os homens foram e são repúblicas ou principados. Os principados ou são hereditários, cujo senhor é príncipe pelo sangue, por longo tempo ou são novos*» (MAQUIAVEL, 1996, p. 33).
Assim será o meu, se Deus me conceder vida bastante [Comentado por Napoleão. p. 15].
Capítulo II - Dos principados hereditários
«Nesta espécie de Estados afeiçoados à família de seu príncipe, soa muito menores as dificuldades de mantê-los, pois basta somente que não seja abandonada a praxe dos antecessores, e depois se contemporize com as situações particulares, de modo que, se tal príncipe, é de engenho ordinário, sempre se manterá no seu Estado, se não houver uma força extraordinária e excessiva que o prive deste; e, mesmo que assim seja, o readquire por pior que seja o ocupante*» (MAQUIAVEL, 1996, p. 35).
* Isso veremos. Tenho a meu favor que eu não o tirei dele, mas sim de um terceiro, que não passava de desprezível arremedo de republicanismo. O que a usurpação teve de odioso não recai sobre mim; os forjadores de frases a meu soldo já fizeram a persuasão. «Ele se limitou a destronar a anarquia». Os meus direitos ao trono da França não estão mal definidos o romance de Lemont... Quanto ao trono da Itália, terei um discurso de Montga... Isso é necessário aos italianos, que apreciam bons oradores. Para os franceses, basta um romance. A ralé iletrada, que não lê, terá as homilias dos bispos e dos padres de minha confiança; e mais ainda, um catecismo com a aprovação do legado do Papa, cuja magia derrubará qualquer resistência. Nada falta, uma vez que o Papa ungiu minha fronte imperial, sob a qual devo parecer mais firme que qualquer Bourbon.  [Comentado por Napoleão. p. 15-16].
Capítulo III – Dos principados Mistos
«Estes Estados conquistados e anexados a um Estado antigo, se são da mesma província e da mesma língua, são facilmente sujeitos, máxime quando não estão acostumados a viver livres*. Basta, para que se assegure a posse desses Estados, fazer desaparecer** a linha do príncipe que o dominava, pois, mantendo-se nas outras coisas a condição antiga, e não havendo disparidade de costumes, os homens vivem calmamente. [...] O conquistador para mantê-los, deve ter duas regras: primeiro, fazer extinguir o sangue do antigo príncipe; segundo, não alterar as leis nem impostos***. De tal modo, num prazo muito breve, ter-se-á feito a união ao antigo Estado****» (MAQUIAVEL, 1996, p. 38).
* Mesmo que estivessem, eu bem saberia como dominá-los. - ** Não me esquecerei disso, em qualquer território que venha a dominar.
*** Ingenuidade de Maquiavel. Conheceria ele o domínio pela força tanto quanto eu? Em breve lhe darei demonstração contrária em seu próprio país, na Toscana, assim como no Piemonte, em Parma, Roma, etc. - **** Conseguirei esses mesmos resultados sem as preocupações ditadas pela fraqueza. [Comentado por Napoleão, p.20].
-«[...] O tempo leva por diante todas as coisas, e pode mudar o bem em mal e transformar o mal em bem*»  (MAQUIAVEL, 1996, p. 41).
* É preciso saber dominar um e outro. [Comentado por Napoleão, p. 24].
«O desejo de conquistar é coisa verdadeiramente natural e ordinária e os homes que podem fazê-lo serão sempre louvados e não censurados» (MAQUIAVEL, 1996, p. 42).
Capítulo IV – Por que razão o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra os sucessores deste
«Estes barões possuem o domínio e súditos próprios, os quais os reconhecem como senhores e lhes votam natural afeição. Naqueles Estados que são governados por um príncipe com seus servidores, o senhor tem autoridade, porque em toda a província não há quem seja reconhecido como superior a ele. E se obedecem a outrem, fazem-nos por força dos cargos que exerce e não lhe dedicam a menos estima*. Os exemplos destas duas espécies de governo são, em nossos tempos – o grão-turco e o reinado de França. [...] O rei da França, está colocado em meio de uma multidão de senhores cujo domínio é tradicional e que são, em seus distritos, reconhecidos e amados por seus súditos. São poderosos e o rei não pode privá-los de suas regalias, sem grave perigo para ele próprio»**  (MAQUIAVEL, 1996, p. 45-46).
* Ótima ideia! Farei o possível para consegui-lo. ** Essa dificuldade pelo menos eu não tenho, embora tenha outras equivalentes. [Comentado por Napoleão, p. 30].
Capítulo V – Da maneira de conservar cidades ou principados que antes da ocupação, se regiam por leis próprias
«É que, em verdade, não há garantia de posse mais segura do que a ruína. Quem se torna senhor de uma cidade tradicionalmente livre e não a destrói será destruído por ela. [...] Nas repúblicas, há mais vida, o ódio é mais poderoso, maior é o desejo de vingança. Não deixam nem podem deixar repousar a memória da antiga liberdade. Assim, para conservar uma república conquistada, o caminho mais seguro é destruí-la ou habitá-la pessoalmente»* (MAQUIAVEL, 1996, p.50).
* Isso não é preciso, quando alguém as revolucionou, e dizendo-lhes que são livres as mantém firmemente em suas mãos. [Comentado por Napoleão, p. 34].
Capítulo VI – Dos principados novos que se conquistam pelas armas e nobremente
«Deve se considerar aqui que não há coisa mais difícil, nem de êxito mais duvidoso, nem mais perigosa, do que o estabelecimento de novas leis*» (MAQUIAVEL, 1996, p. 52).
* E não saberemos ter sob nossas ordens alguns autômatos legistas? [Comentado por Napoleão, p. 37].
«Destarte todos os profetas armados venceram* e os desarmados fracassaram*. Porque, além do que se já se disse, a natureza é vária, sendo fácil persuadi-los de uma coisa***, mas sendo difícil firmá-los na persuasão. Convém, pois, providenciar para que, quando não acreditarem mais, se possa fazê-los crer à força****» (MAQUIAVEL, 1996, p. 53).
* Então os oráculos são infalíveis - ** Nada mais natural - *** Hoje, mormente após o testemunho do papa, sou tido como um pio restaurador da religião e um enviado do Céu. **** [Comentado por Napoleão, p. 38].
Capítulo VII – Dos principados novos que se conquistam com armas e virtudes de outrem
«Os Estados que surgem de súbito, como todas as outras coisas da natureza que se desenvolvem muito depressa, não podem ter raízes ou membros proporcionados, e, ao primeiro golpe da adversidade, aniquilam-se, a não ser que aqueles príncipes, como já se disse, saibam preparar-se para conservar aquilo que a sorte lhes pôs no regaço, e estabeleçam solidamente as bases fundadas anteriormente por outros» (MAQUIAVEL, 1996, p. 55-56).
«Portanto, se julgas necessário num principado novo, assegurar-se contra os inimigos, conquistar amigos, vencer ou pela força ou pela astúcia, fazer-te amado e temido do povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, extinguir os que podem ou devem ofender, renovar as antigas instituições por novas leis, ser severo e grato, magnânimo e liberal, dissolver a milícia infiel, criar uma nova, manter amizades dos reis e dos príncipes, de modo que te sejam solícitos no benefício e tementes de ofender-te, repito que não encontrarás melhores exemplos que nas ações do duque [César Bórgia, chamado pelo povo duque Valentino]. Só é possível acusa-lo quanto à criação de Júlio pontífice» (MAQUIAVEL, 1996, p. 60-61).
«Engana-se quem acreditar que nas grandes personagens os novos benefícios fazem esquecer as antigas injúrias. O duque errou, pois, nessa eleição, e foi ele mesmo o causador de sua ruína definitiva» (MAQUIAVEL, 1996, p. 61).
Capítulo VIII – Dos que alcançaram o principado pelo crime
«Há duas maneiras de tornar-se príncipe e que não se podem atribuir totalmente à fortuna ou ao mérito. [...] Essas maneiras são: chegar ao principado pela maldade, por vias celeradas, contrárias a todas as leis humanas e divinas; e tornar-se príncipe por mercê do favor de seus conterrâneos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 63).
«Ainda que não se possa considerar ação meritória a matança de seus concidadãos, trais os amigos, não ter fé, não ter piedade nem religião, com isso pode-se conquistar o mando, mas não a gloria» (MAQUIAVEL, 1996, p. 64).
Com relação a crueldades e traições realizadas pelos príncipes, Maquiavel assim se pronuncia: «Bem usadas se podem chamar aquelas (se é que se pode chamar bem do mal) que são feitas, de uma só vez, pela necessidade de prover alguém à própria segurança, e depois são postas à margem, transformando-se o mais possível em vantagem para os súditos. Mal usadas são as que, ainda que a princípio sejam poucas, em vez de extinguirem-se, crescem com o tempo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 66). » (MAQUIAVEL, 1996, p. 66).
«Ao apodera-se dum Estado, o conquistador deve determinar as injúrias que precisa levar a efeito, e executá-las todas de uma só vez*, para não ter de renová-las dia a dia**. Desse modo, poderá incutir confiança nos homens e conquistar-lhes o apoio beneficiando-os. [...] As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto, ofenda-se menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados» (MAQUIAVEL, 1996, p. 66).
 * Conclusão acertada e norma excelente - ** Os que começam tarde a praticar a violência se afirmam com timidez sobre os fracos e fazem que os mais fortes se revoltem: aproveitamo-nos disso. [Comentado por Napoleão, p. 55].
Capítulo IX – Do principado civil
A respeito de quando um cidadão se torna príncipe de sua pátria, o qual é denominado de principado civil, Maquiavel afirma que «[...] se chega a esse principado ou pelo favor do povo ou pelo favor dos poderosos. É que em todas as cidades se encontram estas duas tendências diversas e isso nasce do fato de que o povo não deseja ser governado nem oprimido pelos grandes, e esses desejam governar e oprimir o povo. Desses dois apetites, diferentes nasce nas cidades um destes três efeitos: principado, liberdade, desordem» (MAQUIAVEL, 1996, p.67).
«O objetivo do povo é mais honesto do que o dos poderosos, esses querem oprimir e aquele não ser oprimido. Contra a hostilidade do povo o príncipe não se pode assegurar nunca, porque são muitos; com relação aos grandes é possível porque são poucos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 68).
Capítulo X – Como se devem medir as forças de todos os principados
«[...] Julgo capazes de se manter por si os príncipes que podem, em vista de ter abundância de homens ou de dinheiro, formar um exército forte e fazer frente a qualquer assaltante, e que também julgo terem sempre necessidade de outrem os que não podem enfrentar o inimigo em campo aberto, precisando refugiar-se por detrás dos muros da cidade para defendê-la. [...] Os homens são sempre contrários aos empreendimentos onde exista dificuldades; e não se pode ver facilidade no assalto a quem possui um Estado forte e não é odiado pelo povo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 71).
Capítulo XI – Dos principados eclesiásticos
«Diante desses, surge toda sorte de dificuldades, antes de que se possuam, porque são conquistados ou pelo mérito ou por fortuna. Mantêm-se, porém, sem qualquer das duas, porque são sustentados pela rotina da religião. As suas instituições tornam-se tão fortes e de tal natureza que se sustentam os seus príncipes no poder, vivam e procedem eles como bem entenderem*. Só esses possuem Estados e não os defendem; só esses possuem súditos que não governam. E os seus Estados, apesar de indefesos, não lhes são arrebatados; os súditos, embora não sejam governados, não cuidam de alijar o príncipe nem o podem fazer. Somente esses principados, portanto, são por natureza, seguros e felizes. E sendo eles regidos por poderes superiores, aos quais a razão humana não atinge, deixarei de falar a respeito; estabelecidos e mantidos por Deus tais Estados, seria de homem presunçoso e temerário agir de outra forma»** (MAQUIAVEL, 1996, p. 73).
Ah! Se eu pudesse me tornar, na França, o augusto e supremo pontífice da religião! [Napoleão, p. 64]. - ** Essa ironia mereceria, por certo, todos os anátemas do poder temporal do Vaticano. [Comentado por Napoleão, p. 64].
Capítulo XII – Dos gêneros de milícias e dos soldados mercenários
«Direi, pois, que as forças com que um príncipe mantém o seu Estado são próprias ou mercenárias, auxiliares ou mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas. Se alguém tiver o seu Estado apoiado em tal classe de forças, não estará nunca seguro; não são unidas aos príncipes, são ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, insolentes para com os amigos, mas covardes perante os inimigos, não temem a Deus, nem dão fé aos homens, e ao príncipe só ainda a própria ruina na medida em que adia o ataque» (MAQUIAVEL, 1996, p. 77).
Capítulo XIII – Das tropas auxiliares, mistas e nativas
«As tropas auxiliares, que não são mais do que armas inúteis, são as que manda em teu auxílio algum poderosos. [...] Tais tropas podem ser úteis e boas por si próprias, mas quase sempre acarretam prejuízos ao que as solicita, pois, se perderem, estará anulado, se vencerem, estará prisioneiro. [...] Em resumo, nas tropas mercenárias, o que é perigoso é a covardia; nas auxiliares, o valor» (MAQUIAVEL, 1996, p. 83-84).
«Enfim, as armas de outrem ou te caem pelas costas, ou pesam sobre ti, ou ainda te sufocam. [...] Concluo, pois, que, sem possuir armas próprias, nenhum principado está seguro, antes, está à mercê da sorte, não existindo virtude que o defenda nas adversidades. Foi sempre opinião e sentença -  “quod nihil sit tam infirmun aut instabile quam fama potentiae non sua vi nixa” [Nada é tão instável quanto a fama de poderio de um príncipe quando não apoiada na própria força]» (MAQUIAVEL, 1996, p. 86).
Capítulo XIV – Dos deveres do Príncipe para com suas tropas
«Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem ter qualquer outra coisa como pratica a não ser a guerra, o seu regulamento e sua disciplina, porque essa é a única arte que se espera de quem comanda. [...] A primeira causa que te fará perder o governo é descurar dessa arte e a razão de poderes conquistá-lo é professá-la. [...] Não há proporção alguma entre um príncipe armado e um desarmado, e não é razoável que quem está armado obedeça com gosto a quem não está, e que o príncipe desarmado viva seguro entre servidores em armas» (MAQUIAVEL, 1996, p. 87).
«Um príncipe deve, pois, não deixar nunca de se preocupar com a arte da guerra e praticá-la na paz ainda mais mesmo que na guerra, e isso pode ser por duas formas: pela ação ou apenas pelo pensamento*» (MAQUIAVEL, 1996, p. 88).
Que grandes segredos lhes revela Maquiavel! Mas não o leem, nem lerão jamais. [Comentado por Napoleão, p.79].
Capítulo XV – Das razões por que os homens e, especialmente, os Príncipes, são louvados ou vituperados
«Vai tanta diferença entre como se vive e como se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus*. Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valar-se disso segundo a necessidade»** (MAQUIAVEL, 1996, p. 91).
* Se nem todos são maus, os que não são têm recursos e atividades como se todos o fossem. Os mais perversos por seu lado são, frequentemente, os que simulam ser os melhores. [Comentado por Napoleão, p.79].
** Digam o que disserem, o essencial é manter a si e à ordem do Estado [Comentado por Napoleão, p.80]
«É necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebentariam o governo e praticar as qualidades próprias para lhe assegurar a posse desse, se lhe é possível; mas, não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar que as coisas sigam seu curso natural. E ainda não lhe importe incorrer na fama de ter certos defeitos, defeitos esses sem os quais dificilmente poderia salvar o governo, pois que, se se considerar bem tudo, encontrar-se-ão coisas que parecem virtudes e que, se fossem praticadas, lhe acarretariam a ruína, e outras que poderão parecer vícios e que, sendo seguidas, trazem a segurança e o bem-estar do governante» (MAQUIAVEL, 1996, p. 92).
Capítulo XVI – Da liberalidade e da parcimônia
«Um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace. [...] E ao príncipe que marcha com seus exércitos e que vive à custa de presas de guerra, de saques e de reféns, e maneja o que é dos outros, é necessária essa liberalidade, porque de outra forma não seria seguido pelos seus soldados*» (MAQUIAVEL, 1996, p. 94).
* Eis o motivo do meu consentimento para saques e pilhagens. Dava-lhes tudo o que podiam carregar: daí a imutável afeição que me dedicavam. [Comentado por Napoleão, p.86].
«Assim, pois, é mais prudente ter fama de miserável, o que acarreta má fama sem ódio, do que, para conseguir a fama de liberal, ser obrigado a incorrer também na rapace, o que constitui uma infâmia odiosa» (MAQUIAVEL, 1996, p.95).
Capítulo XVII – Da crueldade e da piedade – se é melhor ser amado ou temido
«Não deve, portanto, importar ao príncipe a qualificação de cruel para manter os seus súditos unidos e com fé*, porque, com raras exceções, é ele mais piedosos do que aqueles que por muita clemência deixam acontecer desordens, das quais podem nascer assassínios ou rapinagem. É que essas consequências prejudicam todo um povo, e as execuções que provêm do príncipe ofendem apenas um indivíduo. E, entre todos os príncipes, os novos são os que menos podem fugir à fama de cruéis, pois os Estados novos são cheios de perigo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 97).
* Esquiva-te de falar disso. Contudo, eles não parecem dispostos a te compreender. [Comentado por Napoleão, p.87].
«Questão debatida: se será melhor ser amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que se desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha de falhar numa das duas» (MAQUIAVEL, 1996, p. 98).
«Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homes pérfidos, é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca» (MAQUIAVEL, 1996, p. 98).
«Deve-se, portanto, o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado, o que sucederá uma vez que se abstenha de se apoderar dos bens e das mulheres dos seus cidadãos e dos seus súditos, e, mesmo sendo obrigado a derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo quando houver justificativa conveniente e manifesta*. Deve-se, sobretudo, abster-se de se aproveitar dos bens dos outros, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda de seu patrimônio» (MAQUIAVEL, 1996, p. 98).
* Quando não há razões reais, forjamo-las. Para minhas providências de governo, disponho de homens mais sábios que Gabriel Naudé (1600-1653). [Comentado por Napoleão, p.89].
Capítulo XVIII – De que forma os príncipes devem guardar a fé
«Quanto seja louvável a um príncipe manter a fé e viver com integridade, não com astúcia,* todos o compreendem; contudo, observasse, pela experiência, em nossos tempos, ** que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em pouca conta tiveram a palavra dada, *** e souberam, pela astúcia, transtornar a cabeça dos homens, ****  superando, enfim, os que foram leais»***** (MAQUIAVEL, 1996, p. 101).
Admirando de tal forma a boa-fé, a franqueza e a honradez, Maquiavel nem parece estadista. ** Os grandes exemplos o levam a criar outros semelhantes, conforme o meu processo. *** Arte que pode ser aperfeiçoada. **** Isso é, o vulgo. ***** Os tolos aí estão para nos servirmos deles. [Comentado por Napoleão, p. 92].
«Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais*. [...] Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] Uma sem a outra é a origem da instabilidade. Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois esse não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. [...] Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir» (MAQUIAVEL, 1996, p. 101-102). 
* Partindo do princípio de que lidamos com animais, é o melhor a se fazer[Comentado por Napoleão, p. 92].
«O príncipe não precisa possuir todas as qualidades [...] bastando que aparente possuí-las* [...] de um lado, parecer ser efetivamente piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso, e de outro, ter o ânimo, de sendo obrigado pelas circunstâncias a não o ser, tornar-se o contrário. [...] O príncipe deve, no entanto, ter muito cuidado em não deixar escapar da boca expressões que não revelem as cinco qualidades acima mencionadas, devendo aparentar, à vista e ao ouvido, ser todo piedoso, fé, integridade, humanidade, religião. Não há qualidade de que mais se careça do que esta última» (MAQUIAVEL, 1996, p.101-103).
* Os tolos que pensaram ser um tal conselho válido para todos desconhecem a enorme diferença que há entre o príncipe e os súditos. [Comentado por Napoleão, p. 94].
«Procure, pois, um príncipe, vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados*, e o mundo é constituído pelo vulgo, e não haverá lugar para a minoria se a maioria não tem onde se apoiar» (MAQUIAVEL, 1996, p. 103).
Triunfai sempre – pouco importa com que meios – e sempre tereis razão. [Comentado por Napoleão, p. 95].
Capítulo XIX – De como se deve evitar o ser desprezado e odiado
«O que principalmente o torna odioso, como disse acima, é o ser rapace e usurpador dos bens e das mulheres dos seus súditos. [...] Fá-lo desprezível o ser considerado volúvel, leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto» (MAQUIAVEL, 1996, p. 105).
«Os Estados bem organizados e os príncipes prudentes preocuparam-se sempre em não reduzir os grandes ao desespero e satisfazer e contentar o povo, porque essa é uma das questões mais importantes que um príncipe deve ter e mente» (MAQUIAVEL, 1996, p. 107).
«Os príncipes devem encarregar a outrem da imposição de penas; os atos de graça, pelo contrário, só a eles mesmos, em pessoa, devem estar afetos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 108). 
Capítulo XX – Se as fortalezas e muitas outras coisas que dia a dia são feitas pelo Príncipe são úteis ou não
«Um novo príncipe num principado novo, sempre organizou a força armada. [...] Mas quando um príncipe conquista um novo Estado que seja anexado aos domínios, então é necessário desarmar aquele Estado, exceto aqueles que tenham colaborado contigo para que o conquistasse, e mesmo a esses é necessário, com o tempo, tornar apáticos e amolecidos, de modo que todas as armas desse Estado estejam com teus próprios soldados, que viviam junto a ti no Estado antigo» (MAQUIAVEL, 1996, p.116).
«As fortalezas, portanto, são úteis ou não segundo as circunstâncias, e se fazem bem, por um lado, arruínam-te por outro. Pode-se explicar esse fato da seguinte maneira: o príncipe que tiver mais medo do seu povo do que dos estrangeiros deve construir fortificações, mas aquele que tiver mais temor dos estranhos do que que do povo não deve preocupar-se com isso» (MAQUIAVEL, 1996, p. 118).
Capítulo XXI – O que a um Príncipe convém realizar para ser estimado
«Nada faz estimar tanto um príncipe como os grandes empreendimentos e o dar de si grandes exemplos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 121).
«Sobretudo, deve um príncipe trabalhar no sentido de, em cada ação, conquistar fama de grande homem. É ainda estimado um príncipe quando sabe ser verdadeiro amigo e verdadeiro inimigo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 122).
«Deve ainda um príncipe mostrar-se amante das virtudes e honrar os que se revelam grandes numa arte qualquer. Além disso, deve animar os seus cidadãos a exercer livremente as suas atividades, no comércio, na agricultura e em qualquer outro terreno, de modo que o agricultor não deixe de enriquecer as suas propriedades pelo temor de que lhe sejam arrebatadas e o comerciante não deixe de desenvolver o seu negócio por medo de impostos. Pelo contrário, deve instituir prêmios para os que quiserem realizar tais coisas e para todos os que, por qualquer maneira, pensarem em ampliar a sua cidade ou seu Estado. Além disso, deve, nas épocas propícias do ano, proporcionar ao povo festas e espetáculos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 123-124).
Capítulo XXII – Dos ministros dos príncipes
«A primeira conjetura que se faz, a respeito das qualidades de inteligência de um príncipe, repousa na observação dos homens que ele tem ao seu redor. Quando esses são competentes e fiéis, pode-se reputá-lo sábio, porque soube reconhecer as qualidades daqueles e mantê-los fiéis» (MAQUIAVEL, 1996, p. 125).
«Para que um príncipe possa conhecer bem o ministro, há este modo que não falha nunca: quando vires que o ministro pensa mais em si próprio do que em ti, e que em todas as suas ações procura tirar proveito pessoal, podes ter certeza de que ele não é bom, e nunca poderá fiar-te nele; e aquele que tem em mãos os negócios do Estado não deve pensar nunca em si próprio, mas sempre no príncipe, e nunca lembrar-lhe coisas que estejam fora da esfera do Estado» (MAQUIAVEL, 1996, p. 126).
Capítulo XXIII – De como se devem evitar os aduladores
«Não há outro modo de guardar-se da adulação, senão fazer com que os homens entendam não fazer-te ofensa por dizer a verdade; mas, quando todos podem dizer-te a verdade, faltar-te-ão ao respeito. Um príncipe prudente deve, portanto, [...] escolhendo no seu Estado homens sábios, e só a estes deve dar o direito de falar-lhes a verdade a respeito, porém apenas das coisas que ele lhes perguntar» (MAQUIAVEL, 1996, p.127).
«Um príncipe deve, portanto, aconselhar-se sempre, mas quando ele entender e não quando os outros quiserem; antes deve tirar a vontade a todos de aconselhar alguma coisa sem que ele solicite. Todavia, deve perguntar muito e ouvir pacientemente a verdade acerca das coisas perguntadas» (MAQUIAVEL, 1996, p. 128).
«Um príncipe que não seja prudente por si mesmo não pode ser bem aconselhado, se por acaso não acatar o juízo de um só, muito sábio, que entenda de tudo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 128).
« Bons conselhos, de onde quer que provenham, nascem da prudência do príncipe e não a prudência do príncipe dos bons conselhos» (MAQUIAVEL, 1996, p. 128).
Capítulo XXIV – Por que os príncipes da Itália perderam seus Estados
«Se se considerarem aqueles senhores que, em nossos tempos, na Itália, perderam seus Estados, como o rei de Nápoles, duque de Milão e outros, encontrar-se-á neles, primeiro, um defeito comum quanto ás armas, pelas razões já mencionadas; depois se verá que alguns deles ou foram hostilizados pelo povo ou, no caso contrário, não souberam neutralizar os grandes, porque sem esses defeitos não se perdem Estados tão fortes que possam por um exército em campo» (MAQUIAVEL, 1996, p. 129).
«Assim, esses nossos príncipes que possuíram, por muitos anos, seus principados, para depois perdê-los, não acusem a sorte, mas sim a sua própria ignávia» (MAQUIAVEL, 1996, p. 130).
Capítulo XXV – De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se deve resistir-lhe
«Não me é desconhecido que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus, de sorte que a prudência dos homens não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio algum. [...] Penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixe governar quase a outra metade» (MAQUIAVEL, 1996, p. 131).
«Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é mulher e, para dominá-la, é preciso bater-lhe e contrariá-la. E é geralmente reconhecido que ela se deixa dominar mais por esse do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos circunspectos, mais ferozes e com maior audácia a dominam» (MAQUIAVEL, 1996, p. 133-134).
Capítulo XXVI – Exortação ao Príncipe para livrar a Itália das mãos dos bárbaros
Já está fedendo, para todos, este domínio de bárbaros (MAQUIAVEL, 1996, p. 138).
«Não se vê, atualmente, em que ela [Itália] possa esperar mais do que na vossa ilustre casa, a qual, com a fortuna e valor, favorecida por Deus e pela Igreja – a cuja frente está agora –, poderá constituir-se cabeça desta redenção» (MAQUIAVEL, 1996, p. 136).
«Querendo, pois, a vossa ilustre casa seguir o exemplo daqueles grandes homens e redimir suas províncias, é necessário, antes de mais nada, como verdadeira base de qualquer empreendimento, prover-se de tropas próprias, porque não existem outras mais fiéis nem melhores» (MAQUIAVEL, 1996, p. 137).
(1)  - Esse fichamento é transcrição literal da obra O Príncipe, de Maquiavel, tradução de Lívio Xavier
REFERÊN.CIAS
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
MAQUIAVEL. O príncipe: comentado por Napoleão Bonaparte. 9. ed. São Paulo: Martin Claret, 2007. (p. 29-143). Tradução de Pietro Nassetti