sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Wilhelm Reich - O assassinato de Cristo


 
«O assassinato de Cristo»

(Wilhelm Reich)

 
«Não nos enganemos: a reestruturação do caráter humano através de uma transformação radical, sob todos os aspectos, da nossa maneira de educar as crianças tem a ver com a própria Vida» (REICH, 1991, p. 8).



«O educador do futuro fará sistematicamente (e não mecanicamente) o que todo educador bom e autêntico já faz hoje: sentirá as qualidades da Vida viva em cada criança, reconhecerá suas qualidades específicas e fará tudo para que elas possam desenvolver-se plenamente» (REICH, 1991, p. 9).



«O grande ódio está muito bem escondido e controlado na superfície, para que não possa fazer mal de imediato. A criança emocionalmente mutilada pela mãe na primeira infância só a acusará das conseqüências quando, já homem, se encontrar perante a tarefa de amar uma mulher, ou, sendo mulher, enfrentar os problemas da educação do seu filho» (REICH, 1991, p. 78).



«Cada educador conhece muito bem as causas da delinqüência juvenil e a sua profunda significação: A PRIVAÇÃO SEXUAL NO APOGEU DO DESENVOLVIMENTO GENITAL. Mas ninguém o menciona. O grande ódio está entre a miséria da juventude e os seus potenciais saneadores. E todos fingem não ver esse ódio no imenso engano da polidez e das convenções sociais, porque todos têm medo uns dos outros. E, do mesmo modo, continuam a dar palmada nas costas uns dos outros, como se estivessem a amansar animais selvagens» (REICH, 1991, p.79).



«Uma educação das crianças, desde a infância, que assegure uma estrutura de caráter que possa suportar os golpes duros de uma vida rica, e que seja capaz de adaptação plena às leis da bioenergia. Apoio total por parte da administração social. Habitação para a população, levando em conta a necessidade de privacidade para os adolescentes. Número suficiente de educadores e médicos, eles próprios saudáveis, que estejam disponíveis para emergências. Isso exigirá o pleno reconhecimento público da evasão da verdade por parte dos psicanalistas que hoje ajudam a formar a opinião pública sobre a sanidade mental» (REICH, 1991, p. 197).



«São os adeptos que determinam as regras que os líderes lhes impõem, e nunca o inverso, a princípio. Não há nada em nosso mundo social, e nada pode haver, que não seja fundamentalmente e principalmente determinado pelo caráter e comportamento do povo. Não há exceção para essa regra, não importa para onde se olhe» (REICH, 1991, p. 69).



«Ele [Cristo] sabia que a vida familiar compulsória impede qualquer movimento que ultrapasse seus limites» (REICH, 1991, p. 68).



«Todos os movimentos sociais sempre foram de ordem política, quer dizer, artificiais, impostos pelo exterior, e não produtos de dentro do homem. Para que o homem seja capaz de um movimento de sua própria decisão, ele deverá primeiro despertar internamente, sem ser levado por estímulos exteriores» (REICH, 1991, p. 65).



«É proibido conhecer Deus ou a Vida como amor físico» (REICH, 1991, p. 44).



«Se queremos descobrir o homem, é preciso tomar consciência da tendência de todo homem encouraçado: o ódio ao Vivo» (REICH, 1991, p. 20).



«Desta maneira, a vida se transforma em dominação, regra, exigência, ordem, restrição, sacrifício, assim que enfrenta o imobilismo da multidão, da ‘cultura’, da ‘civilização’, das opiniões estabelecidas na ciência, na tecnologia, na educação, na medicina. Se todas as pessoas se movessem, não haveria razão para tudo isso. Elas gostariam de fazer os seus próprios movimentos. E seriam elas, e não alguns líderes ou grupos, que carregariam o fardo do progresso» (REICH, 1991, p. 69).



«Cristo deu seu perdão à adúltera porque conhecia a miséria sexual dos homens. Sua igreja matará a adúltera como fazia os antigos judeus» (REICH, 1991, p. 106).



«A igreja católica lançará advertências  e declarações pontificais contra as tentativas de por um fim à maior tragédia que jamais atingiu uma espécie viva inteira, o Homem. A igreja Cristã tentará por todos os meios manter seu território, que se baseia na condenação da carne, que equivale, num sentido profundo, ao Assassinato crônico de Cristo» (REICH, 1991, p. 112).



«Tudo isso explica, de uma maneira perfeitamente satisfatória, a proscrição severa de todos os atos genitais que signifiquem felicidade e satisfação, mesmo no seio do matrimônio abençoado pela Igreja. É impossível sentir o princípio do movimento da vida, sem provar a necessidade imperiosa de se fundir com outro corpo. Não se pode esperar que a natureza siga o seu curso, sem colocar a vida humana em perigo, se a excitação se torna medo e o medo se torna foda apressada para ‘aliviar a tensão’. Não há ódio maior do que o que nasce do amor de Cristo frustrado e contrariado. A tentação de matar nunca é maior do que quando ela vem de um sentimento de que a Vida viva é inatingível, de que ela se escapa sempre das mãos estendidas. E tudo isso estava implicitamente contido na preparação do Assassinato de Cristo, no ano 30 A.D.» (REICH, 1991, p. 113).



«O matador tomado pela peste distingui-se do matador racional, que procura em seu crime dinheiro ou satisfação sexuais, pelo fato de que nada ganha com a morte. [...] Ele pode ocupar um cargo qualquer em uma administração governamental ou comercial [...] pode ser jovem ou velho, do sexo masculino ou feminino. Uma só coisa importa: o que o leva ao mal é o desejo genital cruelmente pervertido e frustrado; ele odeia o Amor de Deus, o qual decidiu matar em nome de Deus, de Cristo ou da honra nacional» (REICH, 1991, p. 124).



«Os professores nunca abordaram o assunto, eles nunca permitiriam que os estudantes tocassem nesse problema capital. Para dissimular o fato de que o homem foi feito pela natureza, isto é, por Deus, para copular na idade da puberdade, criou-se um sistema confuso de teorias ad hoc e de argumentos cujos detalhes se contradizem, misturam-se idéias e afirmações de que cada um tem o direito de enganar-se e de ter opinião pessoal sobre a questão da excitação sexual durante a puberdade, opinião resultante de esforços desesperados feitos para esconder do pai os hábitos de masturbação, para não ser apanhado em flagrante e para não ser castigado» (REICH, 1991, p.129).



REICH, Wilhelm. O assassinato de Cristo. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes. 1991.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Errico Malatesta - Principios Gerais do Anarquismo

SÍNTESE DO ANARQUISMO

PRINCÍPIOS GERAIS DO ANARQUISMO

(Errico Malatesta)

Cremos que a maior parte dos males que afligem a
Humanidade é devida à má organização social; e que os homens,
por sua vontade e saber, podem fazê-los desaparecer.
A atual sociedade é o resultado das lutas seculares que os
homens travaram entre si. Os homens desconheciam as
vantagens que podiam resultar para todos, orientando-se pelas
normas da cooperação e da solidariedade. Consideravam cada um
de seus semelhantes (excetuados, quando muito, os membros de
sua família), um concorrente ou um inimigo. E procuravam
monopolizar, cada qual para si, a maior quantidade possível de
gozos, sem pensar nos interesses dos outros.
Naturalmente, nessa luta, os mais fortes e os mais espertos
deveriam vencer, e de diversas maneiras, explorar e oprimir os
vencidos.
Enquanto o homem não foi capaz de extrair da natureza
senão o estritamente necessário à sua manutenção, os
vencedores limitaram-se a pôr em fuga e a massacrar os vencidos
para se apoderarem dos produtos silvestres, da caça, da pesca
num dado território.
Em seguida, quando, com a criação do gado e com o
aparecimento da agricultura, o homem soube produzir mais do
que precisava para viver, os vencedores acharam mais cômodo
reduzir os vencidos à escravidão e fazê-los trabalhar para eles.
Muito tempo após, tornou-se mais vantajoso, mais eficaz e
mais seguro explorar o trabalho alheio, por outro sistema:
conservar para si a propriedade exclusiva da terra e de todos es
instrumentos de trabalho, e conceder liberdade aparente aos
deserdados. Logo, estes, não tendo meios para viver, eram
forçados a recorrer aos proprietários e a trabalhar para eles nas
condições que os patrões lhes impunham.
Assim, pouco a pouco, a Humanidade tem evoluído através de
uma rede complicada de lutas do toda espécie
invasões,
guerras, rebeliões, repressões, concessões feitas e retomadas,
associações dos vencidos unindo-se para a defesa e dos
vencedores coligados para a ofensiva. O trabalho, porém, não
conseguiu ainda a sua emancipação. No atual estado da
sociedade, alguns grupos de homens monopolizam
arbitrariamente a terra e todas as riquezas sociais, enquanto que
a grande massa do povo, privada de tudo, é espezinhada e
oprimida.
Conhecemos o estado de miséria em que se acham
geralmente os trabalhadores, e conhecemos todos os males
derivados dessa miséria: ignorância, crimes, prostituição,
fraqueza física, abjeção moral e morte prematura.
Constatamos a existência de uma casta especial
o governo 
que se acha de posse dos meios materiais de repressão
e que se arroga a missão de legalizar e defender os privilégios dos
proprietários, contra as reivindicações dos proletários, pela
prisão; e do governo contra a pretensão de outros governos,
pela guerra. Detentor da força social, esse elemento utiliza-a em
proveito próprio, criando privilégios permanentes e submetendo à
sua supremacia até mesmo as classes proprietárias.
Enquanto isso, outra categoria especial
o clero por meio
de uma pregação mística sobre a vontade de Deus, a vida futura
etc., consegue reduzir os oprimidos à condição de suportar
docilmente a opressão. Esse clero, assim como o governo, além dos
interesses dos proprietários prossegue na defesa dos privilégios.
Ao jugo espiritual do clero ajusta-se o de uma "cultura"
oficial que é, em tudo quanto possa servir aos interesses dos
dominadores, a negação mesma da ciência e da verdadeira
cultura. Tudo isso fomenta o nacionalismo jacobino, os ódios de
raças, as guerras
e as pazes armadas, por vezes mais
desastrosas ainda que as próprias guerras. Tudo isso transforma
o amor em tormento ou em mercado vergonhoso. E, no fim de
contas, reinarão o ódio mais ou menos disfarçado, a rivalidade, a
suspeita entre todos os homens, a incerteza e o medo de cada
um em face de todos.
Os anarquistas querem mudar radicalmente este estado de
coisas. E, pois que todos os males derivam da luta entre os
homens, da procura do bem-estar de cada um para si e contra
todos os outros, que rem os anarquistas remediar semelhante
sistema
substituindo o ódio pelo amor; a concorrência pela
solidariedade; a presença exclusiva do bem-estar particular pela
cooperação fraternal para o bem de todos; a opressão e o
constrangimento pela liberdade; a mentira religiosa e pseudocientífica
pela verdade. Em resumo, querem os anarquistas:
1.°
Abolição da propriedade (capitalista ou estatal) da
terra, das matérias-primas e dos instrumentos de trabalho, para
que ninguém tenha meios de explorar o trabalho dos outros e para
que todos, assegurados os meios de produzir e de viver, sejam
verdadeiramente independentes e possam associar-se livremente
uns com os outros, no interesse comum e de conformidade com as
afinidades e simpatias pessoais.
2.°
Abolição do Estado e de qualquer poder que faça leis
para impô-las aos outros; portanto, abolição de todos os órgãos
governamentais e todos os elementos que lhe são próprios, bem
como de toda e qualquer instituição dotada dos meios de
constranger e de punir.
3.°
Organização da vida social por iniciativa das
associações livres e das livres federações de produtores e
consumidores, criadas e modificadas conforme à vontade de seus
componentes guiados pela ciência e pela experiência e libertos de
toda obrigação que não se origine da necessidade natural, à qual
todos de bom grado se subme. terão quando lhe reconheçam o
caráter inelutável.
4.°
A todos serão garantidos os meios de vida, de
desenvolvimento, de bem-estar, particularmente às crianças e a
todos os que sejam incapazes de prover à própria subsistência.
5.°
Guerra a todos os preconceitos religiosos e a todas as
mentiras, mesmo que se ocultem sob o manto da ciência.
Instrução completa para todos, até aos graus mais elevados.
6.°
Guerra às rivalidades e aos prejuízos patrióticos.
Abolição das fronteiras, confraternização de todos os povos.
7.°
Libertação da família de todas as peias, de tal modo
que ela resulte da prática do amor, livre de toda influência
estatal ou religiosa e da opressão econômica ou física.


MALATESTA, Errico. Síntese do Anarquismo: princípios  gerais  do Anarquismo. 2. Ed. São Paulo, 2007, p. 25-27 (In: LEUENROTH, Edgard. Anarquismo: roteiro da libertação social. 2. Ed. São Paulo: Centro de Cultura Social CCS-SP/Rio de Janeiro:  Achiamé, 2007.
 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Elizabeth Gurley Flynn. Sabotagem e “fibra moral”

Sabotagem e "fibra moral"

Não tentarei justificar a sabotagem em termos morais. O mero fato de que os trabalhadores a considerem necessária, já a torna ética. Ser necessidade é a maior justificativa para sua existência.

FLYNN, Elizabeth Gurley[1]
 
A objeção que se faz á sabotagem baseia-se no argumento de que ela destrói a fibra moral do indivíduo, seja lá o que for que isso signifique! A fibra moral de um trabalhador!

Aqui temos um pobre trabalhador, trabalhando doze horas por dia, sete dias por semana, por dois dólares diários na siderúrgica de Pittsburg. Se esse homem usar sabotagem, isso irá destruir sua fibra moral. Bom, se isso é verdade, então fibra moral é a única coisa que lhe resta.

Em um estágio da sociedade quando os homens produziam um artigo completo, ou seja, quando um sapateiro pegava um pedaço de couro cru, cortava-o, preparava-o, planejava os sapatos, confeccionava cada parte desses mesmos sapatos, e tinha como resultado um produto final, esse processo representava para esse homem o que uma escultura representa para o artista, existia prazer no trabalho manual e artesanal, havia prazer no trabalho.

Mas será que alguém acredita que um trabalhador em uma fábrica de sapatos, um homem entre cem, cada um deles executando uma pequena parte de um todo, em pé diante de uma máquina e escutando o tique-taque dessa máquina o dia inteiro - que esse homem tem qualquer prazer em seu trabalho ou qualquer orgulho do produto final?

O trabalhador da seda, por exemplo, faz coisas lindas, uma seda brilhante e maravilhosa. Quando a colocam em uma vitrine de Altman, ou da Macy, ou da Wanamaker, ela é belíssima. Porém o trabalhador da seda nunca tem oportunidade de usar um único metro daquele tecido. E a produção daquele objeto tão belo, em vez de ser um prazer, é uma tortura constante para o pobre trabalhador. Na fábrica az um objeto precioso. Volta para casa e encontra pobreza, miséria e dificuldades. Enquanto tece uma seda maravilhosa para algum grupo de mulheres nova-iorquinas de dúbia reputação usar, ele próprio se veste de algodão.

Lembro que uma noite tivemos uma reunião com 5.000 crianças (Nós as chamamos para discutir se deveria ou não haver uma greve nas escolas. Os professores não estavam dizendo a verdade sobre a greve e decidimos que as crianças deveriam ouvir a verdade ou seria melhor que nem fossem à escola). Eu lhes perguntei: “Crianças, algum de vocês tem uma roupa de seda em casa? A mãe de alguém aqui tem um vestido de seda?” Um molequinho esfarrapado na primeira fila gritou, “Lógico, minha mãe tem um vestido de seda”.

Disse eu: “Onde é que ela conseguiu o vestido?” – uma pergunta talvez um pouco indelicada, mas natural.

Ele respondeu: “Meu pai estragou a seda e teve que trazer pra casa”.

A única vez que ganham um vestido de seda é quando estragam o produto e ninguém mais pode usá-lo; quando o vestido está tão destroçado que ninguém mais iria desejá-lo. Aí podem ficar com ele.

O trabalhador da seda tem orgulho de seus produtos!

Falar com essas pessoas sobre ter orgulho de seu trabalho é tão absurdo como falar com o varredor de rua sobre orgulho do seu trabalho, ou dizer ao homem que raspa a sujeira do esgoto que tenha orgulho daquilo que faz.

Se eles pudessem fazer um produto inteiro, ou se fizessem juntos, mas uma associação democrática, e depois pudessem dispor da seda – poderiam usar parte dela, fazer uma roupa para si mesmo com aquele tom salmão, tão belo, ou com os azuis tão delicados – então teriam prazer em produzir seda.

Mas até que a escravidão assalariada e a exploração do trabalhador sejam eliminadas, é ridículo falar que estaríamos destruindo a “fibra moral” do indivíduo se lhe dissermos que destrua “seu próprio produto”.

Destruir seu próprio produto!

O que ele está destruindo é o prazer de algum outro. A chance de que alguma outra pessoa use o produto que ele criou na escravidão.

Existe um outro argumento contra a sabotagem que diz, mais ou menos, que “se você utilizar essa estratégia a que chamam de sabotagem, irá desenvolver um espírito de hostilidade, uma atitude antagônica para com todos os demais da sociedade, vai se tornar mesquinho e dissimulado, um covarde. É agir de forma desleal”.

Mas o indivíduo que usa sabotagem não está unicamente beneficiando a si próprio. Se ele estivesse apenas cuidando de si mesmo, nunca usaria sabotagem. Seria muito mais seguro não fazê-lo. Quando um homem usa sabotagem, ele normalmente tem a intenção de beneficiar toda a sociedade; age individualmente, mas o faz em benefício de si mesmo e de outros, em conjunto.

A sabotagem exige coragem. Exige individualidade. Desperta, naquele trabalhador, algum tipo de auto-respeito, e a dependência em si mesmo como produtor.

        Meu argumento é que, ao invés de ser mesquinho e covarde, um ato de sabotagem é um ato corajoso, transparente. É possível que o patrão não seja informado sobre esse ato pelos jornais, mas ele irá descobri-lo do mesmo jeito, e muito rapidamente. E o homem ou a mulher que utiliza a sabotagem demonstra uma coragem que só pode ser medida da seguinte maneira: quantos dos seus críticos fariam a mesma coisa? Quantos entre vocês, leitores, se dependessem de um emprego em uma cidade da seda como Paterson, tomaria aquele emprego em suas mãos, utilizando sabotagem? Se fossem um maquinista em uma fábrica de locomotivas e tivessem um bom emprego, quantos de vocês arriscariam.



REFERÊNCIA

FLYNN, Elizabeth Gurley. Sabotagem: a retirada consciente da eficiência industrial dos trabalhadores. Curitiba: Edições A7. 2004.

[1]Elizabeth Gurley Flynn - nasceu em 7 de agosto de 1890 em Concord, New Hampshire (EUA), foi a primeira mulher a liderar o Partido Comunista na América. Com dez anos sua família muda-se para New York onde foi educada em escola pública. De uma família de socialistas, aos dezesseis anos ela dá sua primeira palestra, What Socialism Will Do for Women, no Harlem Socialist Club. Em conseqüência desta atividade política foi expulsa da high school. No próximo ano dedica-se exclusivamente a organizar a Industrial Workers of the World – IWW. Lidera greves e organiza trabalhadores, tornando-se líder de movimentos trabalhistas na Pennsylvania, New Jersey, New York, Minnesota e Massachusetts. Apesar de inúmeras prisões nunca conseguiram enquadrá-la como executora de atividades criminosas. Fundou a American Civil Liberties Union, e defendeu incansavelmente os direitos femininos. Em 1936 junta-se ao Communist Party passando a escrever uma coluna feminista no jornal do partido, The Daily Worker. Dois anos depois ela foi eleita para o National Committee. Membro do Comitê Internacional durante a II GM, continuou defendendo os direitos profissionais para as mulheres e foi eleita, em 1942, para o Congress como representante de New York, com mais de 50000 votos. Em 1951 é presa e liberada nove meses após obrigada a prestar serviços por dois anos, na penitenciária feminina de Alderson, West Virginia. Publicou The Alderson Story: My Life as a Political Prisoner (1955) sobre suas experiências nas prisões e novamente foi presa (1956), desta vez só libertada no ano seguinte. Tornou-se, em 1961, presidente do partido comunista americano, cargo que exerceu até sua morte, ocorrida em 5 de setembro de 1964, durante uma de suas visitas à União Soviética, um mês após completar 74 anos e foi enterrada no Waldheim Cemetery. Apesar de sua biografia e conseqüentemente as extremas dificuldades contra as quais teve que lutar, ainda hoje o comando feminino nos partidos de esquerda é muito raro, imagine no início do século XX.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Custódio G. da Silva - “A concepção de educação em Max Stirner” - Resenha




“A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM MAX STIRNER”


Custódio Gonçalves da Silva



        O livro “A concepção de educação em Max Stirner”, tem por tema o indivíduo e a prática da educação autoritária imposta pelas diversas instituições sociais. Seu objeto de estudo o caráter objetivo do valor da educação coercitiva presentes, principalmente, na família, escola, igreja e Estado — que vai de encontro ao anseio próprio de cada indivíduo.

        Pressupondo o Positivismo comteano arraigado no sistema de educação exógena — cuja teoria do conhecimento, não obstante alegar o uso da razão, na realidade, jaz no limbo do Idealismo asceta — esta pesquisa se constitui em uma crítica a tal sistema. O pensamento libertário de autores como Max Stirner, Bakunin, De la Boétie, Kropotkin, Proudhon, Reclus e Wilde, compõe seu referencial teórico ao tempo em que, também, estabelece diálogos com Nietzsche, Freud, Fromm, Reich, dentre outros.

        Em uma perspectiva hermenêutica, o método interdisciplinar e multirreferencial, aporta-se no Materialismo da filosofia dos Anarquismos e, essencialmente, fundamenta-se na radical visão de homem e de mundo de Max Stirner e seu anarco-individualismo.

        Em vista da educação mítica que se nos apresenta hodiernamente — em que pese o avanço ocorrido na teoria do conhecimento — este livro justifica-se na medida em que tenta explicitar a contradição irreconciliável existente entre as duas principais escolas epistemológicas do pensamento humano: o Idealismo e o Materialismo.

        Nesse debate — questionando a pedagogia e a educação autoritária de Estado enquanto práticas que visam ao adestramento, à submissão e à alienação do indivíduo tenta responder qual pode ser o papel da educação, tudo com o objetivo de identificar, na concepção de Max Stirner, qual é o princípio de sua proposta de educação, posto que o Negativismo de seu pensamento visceral vai de encontro até mesmo ao ensino que tenha por base a consciência e a razão, por considerá-lo, ainda, contrário à causa do indivíduo. Stirner… sugere, antes, a liberdade de um ensino egoísta, voltado para a vontade singular própria de cada um, no qual o Eu individual possa manifestar-se, livre e sem barreiras, a sua própria espontaneidade.

REFERÊNCIA

SILVA, Custódio Gonçalves da. A concepção de educação em Max Stirner.  Rio de Janeiro: Rizoma, 2012, 113p.